O planeta continua a debater-se com o impacto impressionante de vidas ceifadas e pessoas infetadas, num registo que nos deixa a todos apreensivos. Em Portugal, a situação sanitária aparenta estar controlada, mas tal não permite baixar os braços, nem as precauções podem resvalar perante as ameaças de nova vaga. O fim do estado de emergência, ao qual todos corresponderam conscienciosamente, não pode representar o nosso grito de libertação, embora restem poucas dúvidas de que no dia 3 de maio tudo quererá sair de casa para respirar.

O confinamento será cessado com a redução do risco e a continuação de precauções e em data anunciada, mas o mesmo não sucederá com a economia. Enquanto o distanciamento social foi determinado por decreto e a sua observância globalmente aceite, a vida das empresas não pode funcionar por decreto nem por mera obediência.

Governantes, empresários, trabalhadores, parceiros sociais e outros responsáveis desejam reanimar, restabelecer e reconstruir todo o tecido económico, reduzindo e mitigando os efeitos indiretos nefastos da Covid-19. Não há maior consenso possível em Portugal e no mundo: repor o funcionamento da economia.

Nas últimas semanas, os responsáveis políticos repetiram à exaustão a necessidade de “testar, testar, testar”. No lado B deste disco, a palavra de ordem assume igual vigor: “recuperar, recuperar, recuperar”. Repetem-se os avisos e as análises perante o pior cenário de sempre da economia, de braço dado com as finanças públicas. Empresas sem perspetivas, empresários e trabalhadores angustiados, setores inteiros parados e sem atividade e de recomeço adiado.

No cenário atual, turismo, comércio e exportações são as áreas mais atingidas e de futuro mais cinzento, sem mercado interno previsível e mercado externo condicionado, mais fechado e com previsíveis custos mais elevados.

A dimensão do problema agravado para as micro, pequenas e médias empresas que constituem o cerne da nossa capacidade produtiva, ignoradas no combate pela sobrevivência e que merecem respostas céleres, ajustadas e com enquadramento estratégico. O que até ao momento ainda não se vislumbra.

O desafio real para o Governo será este. Até agora pouco objetivo. Ignorando as dificuldades de quem investe no seu próprio emprego em espaços de pouco capital mas de muito enquadramento comunitário. Sem o glamour das startup ou o peso das grandes empresas, representam a parte mais significativa da criação de emprego, da prestação de serviços do litoral ao interior, não vivendo dos subsídios, mas vivendo para as pessoas e para o país.

A economia não se recupera por decreto, mas o primeiro-ministro e alguns ministros dispõem da oportunidade de intervir para resolver estes problemas como objetivo prioritário. O Governo mais numeroso da democracia tem de provar a sua valia, embora seis meses depois da tomada de posse e dois meses depois da crise se demonstre a pouca presença e a escassa justificação de muitos dos seus titulares. Abre-se a porta para que se evidenciem em atos úteis, perante este combate de reposição da nova normalidade, deixando de ser uma maioria invisível de pouco proveito.