As responsabilidades dos auditores e a sua exposição pública tem vindo a aumentar de forma significativa nos últimos anos em Portugal. A pressão da tesouraria e dos resultados das empresas, bem como ambientes de corporate governance ainda muito débeis na maioria das organizações, continuam a impactar no nível de risco da atividade, sem assistirmos a um correspondente ajustamento no nível de honorários.
As novas regras de rotação e a definição de EIP (com as consequentes maiores responsabilidades e carga de trabalho de auditoria associada), veio agitar o mercado, mas implementar uma rotação feita essencialmente apenas entre o mesmo numero reduzido de players. É fundamental incluir as mid-tear neste processo, assegurando uma maior diversidade de escolha.
O mercado já percebeu que as auditoras de maior dimensão, não têm o exclusivo de qualidade. Basta relembrar os “casos financeiros”, para perceber o que digo. A rotação entre um número reduzido de players é um jogo falso, não é rotação e o mercado já percebeu. Cada vez mais as grandes empresas, os grandes grupos, procuram alternativas nas auditoras mid-tear.
Porque é que uma auditora internacional que opera em 150 países e que conta com mais de 30.000 colaboradores nesses países, não é capaz de prestar um excelente serviço a um grupo multinacional que opere em apenas 30 ou 50 países? É óbvio que tem capacidade de resposta.
O mercado quer um auditor presente. Quer elementos seniores nas equipas. A escala tem limites. O modelo de negócio, assente num partner que supervisiona projetos e equipas alargadas de auditores juniores, não é o que o mercado quer. Os clientes querem recomendações e sugestões de valor acrescentado, que ajudem a gerir os riscos de negócio.
Os auditores individuais e as pequenas sociedades de auditores (locais e não integradas em networks), por problemas de sucessão e continuidade interna, serão definitivamente substituídos, essencialmente por mid-tear firms. Este movimento tende a acelerar-se com a maior internacionalização das empresas portuguesas, que exigirá o envolvimento de auditores nacionais com presença noutros países.
Os principais pilares de mudança na profissão de auditoria, estão relacionados com os seguintes aspetos:
Tecnologia
O uso generalizado de novos conceitos e abordagens metodológicas (Data Analytics/Machine Learning/Artificial Intelligence) será o maior impacto que veremos nos próximos anos. As equipas de auditoria da Baker Tilly, passaram a incorporar auditores de sistemas de informação, com qualificação CISA e outras de vertente tecnológica/informática. A Baker Tilly investe uma percentagem crescente da sua facturação em tecnologias e formação para a implementação deste driver de negócio. Por outro lado, acreditamos que ocorrerão alterações nos standards de auditoria e na forma como o regulador verá o uso da tecnologia no trabalho de auditoria (testes a efetuar, e nas técnicas de documentação das evidencias de auditoria).
Exigência do mercado por padrões de qualidade
A qualidade é um desafio para TODOS os stakeholders (auditores; management; regulators; shareholders; comités de auditoria, etc). Todos devem assumir a sua parte/responsabilidade disponibilizando mais informação; supervisionando melhor; indagando mais; etc (no one party can solve all the challenges). Os escândalos financeiros, os ataques informáticos, as questões ambientais, o risco crescente na continuidade do negócio das empresas (mercados mais competitivos), exigem auditores atentos, mas mais do que tudo, comprometidos com elevados padrões de qualidade. O mercado já percebeu que a qualidade não é exclusiva das auditoras de maior dimensão, e isto constitui uma oportunidade para as auditoras mid-tear. Por outro lado, padrões de qualidade standard mais exigentes e maior regulação, colocarão maior pressão e risco na atividade de auditoria.
Alterações legislativas
Potenciais alterações em determinados mercados/indústrias (imposição de auditorias conjuntas – auditorias efetuadas em conjunto por dois auditores) e outras medidas para aumentarem a concorrência no mercado. Haverá a necessidade de avaliar como é que as auditorias menos complexas, podem melhor ser realizadas e documentadas usando os atuais (ou revistos) padrões de auditoria — as ISA (International Standards on Auditing), nunca estiveram tão ajustadas e apropriadas para auditorias complexas, nomedamente empresas cotadas e outras entidades de interesse público, mas estarão já suficientemente ajustadas para as auditorias menos complexas?
Gap de expetativas
Os inúmeros “casos financeiros” a que temos assistido, confirma que um dos maiores dilemas continua a ser o “gap de expectativas”, que aumentou ao invés de diminuir. É necessário ter claro o que é uma auditoria, o que faz e o que não faz, qual o seu âmbito e qual o seu output. As pessoas continuam a confundir e a misturar conceitos, âmbitos, responsabilidades e outputs. Ou, em alternativa, há que mudar as responsabilidades e output de uma audioria, para ir ao encontro das expetativas da opinião pública, com correspondente impacto no âmbito e nível de honorários.
Risks/opportunities
A maior concorrência que se avizinha pode ser uma oportunidade real para a auditoras mid-tier que saibam gerir os desafios da qualidade e do delivery, tendo foco central nos clientes e na formação e retenção de talento.
Risco de preço
Crescente pressão sobre os preços por efeito da concorrência, mas acima de tudo por pressão da generalidade dos clientes que continuam a cortar custos indiscriminadamente.
Risco de Segurança da Informação
Riscos de espionagem industrial; uso generalizado da cloud; sistemas integrados com inúmeros terminais (PC’s, laptops; terminais multiusos, telemóveis, etc…) potenciam o risco de segurança da informação. A confidencialidade da informação é um dos principais atributos que os clientes vêem num auditor. Serão necessários investimentos relevantes nesta área (financeiros, infraestruturas, formação).
Risco de Litigation
A litigation vai aumentar. Os ditos “casos financeiros” serão cada vez mais escrutinados pelo pelos stakeholders tradicionais e agora também pela opinião pública/media, reguladores e governos/deputados. A exposição mediática negativa (risco reputacional) e as externalidades financeiras (multas e processos/litigância jurídica) tende a subir em flecha.
Fotografia: Paulo Gil André, Managing Partner da Baker Tilly
Este conteúdo patrocinado foi produzido em colaboração com a Baker Tilly.
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