A nossa linguagem reflete o modo como vemos o mundo. Também o vocabulário do gestor exprime a forma como vê o negócio e a organização. Há os que usam frequentemente a palavra ‘aposta’: “é preciso apostar em Angola” ou “vamos apostar no online” são expressões frequentemente ouvidas num passado recente. Outros usam a palavra ‘experimentar’: “é preciso experimentar em Angola” ou “vamos experimentar o online”.
A frequência relativa no uso destas duas palavras por um gestor permite-nos localizá-lo num espectro que vai dum extremo dos que vêm a empresa como uma pura aposta, ou conjunto de apostas, até ao outro extremo dos que vêm a organização como uma experiência, ou conjunto de experiências. Duas características principais distinguem estes estilos de gestão.
Uma é o compromisso com a decisão versus a sua reversibilidade. Uma aposta tipicamente envolve um elevado grau de comprometimento. Escolhe-se o que tem maior potencial porque o que foi apostado ou ganha-se ou perde-se. O oposto de compromisso é adaptação e reversibilidade. Quem experimenta vê se o projeto corre bem e depois escolhe se expande, melhorando o que pode ser melhorado, ou se líquida, ou se põe on hold até que as circunstâncias mudem.
Outra é a aprendizagem. Uma aposta não pressupõe aprendizagem com o processo, antes baseia-se num palpite ou intuição que o mercado vai seguir numa certa direção. A experimentação, pela sua natureza, não tem certezas sobre a direção que o mercado vai tomar e por isso tenta perceber os caminhos por onde pode ir. O apostador ‘sente’ o presente, o experimentador ‘explora’ o futuro.
Há negócios mais apropriados para apostas e outros para experimentação. Um investimento em bitcoins é por natureza uma aposta: é inútil investir um poucochinho a ver se resulta. Para se ganhar é preciso investir antes que suba e vender antes que desça e a decisão é baseada no sentimento. E quem diz bitcoins diz ações, petróleo e ouro. E mercados e geografias que, por características políticas e sociais, se aproximem do imprevisível.
Por outro lado, o lançamento de um produto de grande consumo é tipicamente uma experiência: um novo sabor pode ser testado, ajustado, faseado, e a sua produção expandida, com aumento ou diminuição de preço, ou até descontinuada. Em experimentação a decisão é baseada em processos.
A escolha entre gestão por aposta ou gestão por experimentação também depende muito do ambiente cultural. Na Alemanha é mais comum, quer entre gestores, quer entre políticos, falar em ‘experimentar’. E em Portugal? Portugal é claramente um país de ‘apostadores’, quer na política, quer nos negócios.