Uma cidades mais verde, sustentável e com menos poluição atmosférica. São ideias positivas que vendem e dão votos mas não podem permanecer apenas no papel.
Quem consulta a apresentação de Lisboa Capital Verde Europeia 2020 pode acreditar que está perante a descrição de outra cidade que não aquela que conhecemos, tão difícil é destrinçar entre informação manipulada e populismo. Uma gestão feita de ciclovias e ovelhas a pastar, longe da cidade real, com problemas graves de limpeza e recolha de lixo, a que se somam níveis de poluição elevados, entre outros.
A Câmara Municipal de Lisboa (CML) recebeu um financiamento global de 2,7 milhões de euros para o projeto “Life Lungs” que se prolonga até 2024. No âmbito deste projecto, a imprensa foi inundada de notícias sobre as 20 ovelhas a pastar no Parque da Bela Vista para combater a emergência climática. Medida aplaudida e difundida mas que esconde o real custo para o erário público.
Só para o estudo do projecto, o município celebrou um contrato de ajuste directo de aquisição de serviços para um teste preliminar de roçamento em prados bio diversos na área de Lisboa, através do uso de um rebanho de ovelhas, com uma empresa de consultoria no valor de 19.933,40 euros. Estão caras as ovelhas – só para o teste, cada ovelha ficou a 1.000 euros saídos do bolso do contribuinte.
Mas se o pretendido é lutar contra as alterações climáticas, sugiro enviarem já e em força quantos rebanhos conseguirem para o Campo das Cebolas, onde se situa o Terminal de Cruzeiros de Lisboa, a maior ameaça de poluição na capital.
Vamos a factos. O ano de 2017 ficou marcado pela eleição de Lisboa como o porto marítimo mais concorrido a nível europeu, com a visita de 115 navios de cruzeiro que aí permaneceram estacionados durante 7.953 horas.
Em 2018, os navios emitiram 2,9 milhões de toneladas de CO2, valor superior à totalidade das emissões dos automóveis que circulam diariamente nas cidades de Lisboa, Porto, Cascais, Sintra, Vila Nova de Gaia, Loures, Braga e Matosinhos, correspondente a 2,8 milhões de toneladas.
No período pré-pandemia, mais concretamente em 2019, a Federação Europeia para os Transportes e Ambiente (T&E) publicou um estudo com conclusões alarmantes – Lisboa chegou à posição de sexta cidade europeia mais poluída pelos navios de cruzeiro, ultrapassando a emissão de óxidos de enxofre, poluição provocada pelos transportes terrestres, em 86 vezes.
A mesma CML que implementou o programa ZER – Zona de Emissões Reduzidas Avenida Baixa Chiado que prometeu reduzir em 40% os carros e as emissões no centro da cidade, também em tudo contribuiu para transformar Lisboa numa Veneza de segunda categoria, dando luz verde e aprovando o Terminal de Cruzeiros de Lisboa.
O Terminal de Cruzeiros de Lisboa é um erro que a cidade vai pagar caro em termos ambientais e de saúde. Um único navio polui tanto como um milhão de carros num dia e o elevado nível de emissão de óxidos de enxofre e óxidos de azoto, partículas tóxicas ultrafinas, tem como consequência dores de cabeça, indisposições, problemas respiratórios e cardíacos, entre outros sintomas.
É preciso coragem política para recuar nesta obra desastrosa, encerrando o Terminal de Cruzeiros de Lisboa a navios de grande porte, canalizando-o apenas para embarcações de recreio que transitaram para energias mais limpas e sustentáveis, reduzir o número de navios de cruzeiro a navegar no rio Tejo e estudar nova localização para o porto fora do centro da cidade.
Em ano de Eleições Autárquicas, e com a reabertura do país ao turismo, é urgente introduzir o tema da poluição na cidade e recuar neste verdadeiro atentado ambiental.