O advento do Corona vírus, que está a causar a pandemia que estamos a atravessar, coloca aos líderes de todos os países um desafio sem precedentes nos últimos 100 anos. É que este vírus espalhou-se, literalmente, por tudo o mundo, afectando países do norte e do sul, países ricos e pobres, de uma forma muito mais global que as guerras “mundiais”, que afectaram, sobretudo, os países mais ricos à época.
Esta pandemia surge, ainda, na sequência de outros problemas de escala global, como as alterações climáticas, o terrorismo islâmico, a poluição dos oceanos, as migrações e as desigualdades. Esses problemas eram tema forte de debate nacional e internacional, mas, apesar do esforço de alguns para encontrar soluções coordenadas internacionalmente, acabavam por ter reposta à escala nacional e regional, em vez de global (veja-se a dificuldade que a própria União Europeia vem tendo em resolver, coordenadamente, os problemas dos migrantes africanos e do médio-oriente).
Foi nesse caldo de desafios globais sem respostas políticas capazes, de escala mundial, que muitos dos populismos emergiram em diferentes países.
Apelando à retórica fácil do “o nosso país primeiro” e “os outros que se f…”, diversos políticos conseguiram ascender ao poder nas suas nações.
Aconteceu assim nos EUA, no Brasil, nas Filipinas, no RU, na Hungria, na Itália (de Salvini), na Polónia ou na Áustria, para além da subida forte, mas sem chegar à liderança, de políticos da mesma estirpe na França, na Alemanha, na Finlândia, na Holanda, na Suécia, entre outros.
Em Portugal, temos o projecto Chega, que tem promessas de crescimento.
Todos esses movimentos políticos são extremamente bem pensados e elaborados. Inclusivamente, formando alianças e partilhas à escala internacional, estes movimentos populistas de extrema-direita ganham força explorando as paixões humanas básicas como o medo do desconhecido ou o auto-elogio (em linguagem infantil, “nós bons, eles maus”).
Acontece que, se a opção nacionalista e extremada nunca seria solução antes da pandemia, muito menos o é durante e depois da pandemia.
É que a pandemia não dá azo a enganos: más políticas têm maus resultados, imediatamente.
Nos EUA e no Brasil, liderados por dois monstros do populismo, a gestão da pandemia tem sido péssima, com esses líderes a darem os exemplos e conselhos errados a toda a hora e a conduzirem políticas erráticas. O resultado salta à vista: milhões ou milhares de infectados, milhares de mortos, valas comuns, falta de apoio médico e a exibição da imoral desigualdade dessas nações, sendo os pobres (e negros) os que mais se infectam e morrem.
Estes políticos populistas não são solução para nada. Nunca o foram na história. São uma espécie de banha-da-cobra vendida como remédio, que pode até ter um efeito placebo nos primeiros tempos, mas que descamba em doença ou morte depois. Foi assim na Alemanha de Hitler, na Itália de Mussolini e em todos os locais onde os líderes populistas puderam dar largas aos seus delírios.
Infelizmente, os seres humanos são pouco capazes de aprender com a história, uma vez que essa aprendizagem diz respeito à racionalidade, enquanto que os mecanismos que estes profissionais do engodo usam são as paixões básicas, que estão presentes em todos nós, qualquer que seja o nosso nível intelectual ou cultural.
Como referi, o mundo já estava carente de lideranças sérias e capazes, que conseguissem encontrar as soluções concertadas paras os problemas que só se resolverão de forma global: regulação financeira mundial, regulação do comércio internacional, combate às alterações climáticas e à poluição, combate às desigualdades internacionais, combate às causas das migrações.
A única vantagem que a pandemia trouxe foi esta de mostrar, claramente, quem tenta gerir uma situação de crise e está verdadeiramente preocupado com o seu povo. Neste tempo, em que as pessoas olham para o lado e vêem outros a morrer, fica mais difícil dizer que tudo está bem, que somos os maiores. Mais, a falta de empatia típica destes líderes torna-se mais evidente nestes tempos. É que estes homens (não há uma única mulher a fazer estas figuras, bem pelo contrário, veja-se o exemplo magnífico da líder da Nova Zelândia) até podem ser bons políticos (no sentido mais cínico do termo) mas são políticos maus, seres humanos egomaníacos (alguns a roçar a psicopatia) que, verdadeiramente, desprezam a maior parte do seu povo e apenas querem concretizar projectos pessoais de poder.