Fez esta semana 37 anos da fundação do Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB). A propósito desta efeméride, permitam-me os leitores partilhar convosco algumas ideias.
Nos inícios da década de 1980 pulsavam ainda pendores autoritários de quem queria afirmar a unicidade sindical. Esta, a ter sido concretizada, seria a negação da liberdade duramente reconquistada, poucos anos antes. Por tudo isso, não podemos deixar de elogiar os fundadores deste sindicato independente, livre de amarras e sujeições. De gente que pensou pela sua cabeça. Daqueles que ousaram criar e afirmar pela diferença, contra as opiniões dominantes, as crenças, a indiferença (quando não a hostilidade) de tantos colegas do mesmo ofício. Eles foram os heróis que ousaram dançar.
Este é um sindicato que não se afirma contra nenhum outro, nem contra ninguém, mas apenas e sempre na defesa dos interesses dos seus associados e dos trabalhadores do seu sector. Porque acreditamos que no médio e longo-prazo a viabilidade das empresas está mais assegurada quando estas defendem o emprego, a qualificação, a formação e a remuneração digna dos seus trabalhadores.
Por isso nos indignamos, amiúde, contra políticas de gestão míopes, que colocam toda a ênfase no curto-prazo e em cortes draconianos, ou na negação dos valores e da dignidade do trabalho.
Em Portugal, num dos países mais desiguais do mundo ocidental, talvez seja tempo de pensar porque a filiação sindical é, comparativamente com os países do Centro e do Norte da Europa, baixa. Ou porque nos mobilizamos tanto em torno do futebol, de concursos de talentos musicais, das redes sociais, entre outras coisas, e tão pouco em torno de temas laborais, da defesa de melhores condições remuneratórias, ou de uma melhor redistribuição dos rendimentos gerados na economia.
Talvez seja tempo de questionarmos a razão que leva a que sindicatos e sindicalistas sejam apresentados sempre, por alguma comunicação social, numa óptica populista e eivada de preconceitos bebidos nos anos 1930. Na concepção fascista italiana, que influenciou o Estado Novo, os sindicatos eram agremiações de tipos perigosos e que agregavam os mais energúmenos da sociedade. Por tudo isto, numa sociedade tolerante e coesa como a portuguesa, olhar para os sindicatos com os olhos de Salazar e de Mussolini, é contribuir para a anomia social, para as baixas taxas de sindicalização e de participação política e cívica. No fundo, é contribuir para a perpetuação da pobreza e para a desigualdade terceiro-mundista.
Queremos aproximar-nos dos níveis de exigência, transparência de governação, conforto material e qualificação dos alemães? Sindicalizem-se, meus caros.