No curso da pandemia, um dos aspectos que mais me impressionou foi o verdadeiro medo – medo psicólogo, irracional e paralisante – que se apossou de muitos concidadãos. Não falo do medo que humana e saudavelmente (justamente porque nos ajuda a proteger a saúde) sentimos. Mas sim do verdadeiro pânico. Contudo, todos os dados objectivos, vindos da ciência médica e da estatística, nos convidavam a atenuar esse medo.
Ouvimos dizer, vindo de gente cientificamente credível, que este vírus “era bonzinho” quando comparado com outros, que a sua mortalidade era reduzida e atingia determinados estratos etários da população poupando os mais novos. E a estatística comprovou tudo isso: nula mortalidade em crianças e adolescentes e muitíssimo baixa em adultos abaixo dos 50 anos. E segundo os dados mais recentes, a taxa de mortalidade global estará abaixo de 1%.
Suponho que restarão poucas dúvidas que o medo foi alimentado por uma estratégia mediática que a dada altura interessou aos poderes públicos para mais facilmente confinar as pessoas. Por exemplo, as conferências de imprensa diárias do Governo e da DGS com o registo de infeções, internamentos e mortes por Covid funcionaram e funcionam num registo de alarme permanente. Convém, mantendo os cuidados de distanciamento e higiene, mudar de agulha.
Bastará que nessas mesmas conferências se diga que ontem morreram tantos de AVC, tantos de cancro, tantos de pneumonia, tantos deste ou aquele vírus e tantos de Covid-19, para tudo se relativizar. Ou, à semelhança do filósofo francês André Comte-Sponville, iniciar a próxima conferência de imprensa dando duas singelas notícias, uma má e outra boa: a má que vamos todos morrer, a boa que a esmagadora maioria de todos nós não vai morrer de Covid-19…
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.