John Bolton, ex-conselheiro para a Segurança Nacional de Donald Trump, foi obrigado a demitir-se em setembro do ano passado após manifestar discordâncias com o presidente norte-americano. Alguns meses depois da demissão, Bolton está a publicitar um livro de memórias que promete agitar a Casa Branca, tanto que, de acordo com alguns relatos, a presidência dos Estados Unidos já terá tentado impedir a sua publicação.
Num dos episódios contados por Bolton em “A Sala Onde Tudo Aconteceu – Memórias da Casa Branca”, Trump e o presidente chinês Xi Jiping estiveram juntos na conferência do G20 no Japão e o ex-magnata imobiliário terá pedido ajuda a Xi Jiping para as eleições presidenciais de 2020.
“Trump, admiravelmente, virou a conversa para as próximas eleições presidenciais [em 2020], aludindo à capacidade económica da China e implorando a Xi para que ele as vencesse”, escreve Bolton nas memórias, citado pela BBC.
“Ele demarcou a importância dos agricultores e prometeu aumentar as compras de soja e trigo à China após o resultado eleitoral”, descreve o ex-Conselheiro para a Segurança Nacional.
Numa outra conversa com o presidente chinês, Trump terá dito a Xi Jiping para avançar com a construção dos campos de concentração para o povo uiguer porque “essa é a decisão mais acertada”. Até à data, a China já terá detido mais de um milhão de uigures e outras minorias étnicas para as forçar a trabalhar nos campos, algo que os Estados Unidos têm sido publicamente contra as sanções chinesas, acusando-os de repressão.
Outro episódio descrito por John Bolton ao longo das 577 páginas das memórias, é que Donald Trump considerou que seria “ótimo” invadir a Venezuela enquanto o país se encontra em plena crise política e que o país é “verdadeiramente uma parte dos Estados Unidos”.
Segundo a versão do ex-conselheiro, esta conversa terá acontecido por chamada telefónica com o presidente russo, Vladimir Putin, em maio de 2019. Putin terá comparado Juan Guaidó, líder da oposição venezuelana, a Hillary Clinton, candidata presidencial em 2016, o que mereceu a atenção de Trump.
Para John Bolton, esta foi apenas uma das demonstrações de como Trump é um líder facilmente manipulável quando os outros recorrem às suas obsessões pessoais, como foi o exemplo de Vladimir Putin. Bolton afirma no livro, de acordo com a BBC, que os argumentos do presidente russo “convenceram amplamente Trump” a apoiar Nicolás Maduro, apesar dos Estados Unidos apoiarem publicamente Guaidó como presidente interino da Venezuela.
Entre abril de 2018 e setembro de 2019, John Bolton conseguiu assimilar muitos episódios que envolvem o presidente norte-americano, entre os quais o facto de Trump expressou total disposição para terminar com investigações criminais em curso “para fazer favores pessoais aos ditadores de quem gosta”.
No livro, Bolton refere que o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, entregou um documento a Donald Trump no qual estava defendida a inocência de uma empresa turca que estava a ser investigada pelo Ministério Público do Distrito Sul de Nova Iorque por alegadas violações de sanções contra o Irão.
“Trump afirmou a Erdogan que iria cuidar das coisas, explicando que os promotores do Distrito Sul não eram o seu povo mas o de Obama, e que esse problema seria resolvido quando fossem substituídos pelo seu povo”, refere Bolton nas memórias, descrevendo o padrão de “obstrução da justiça” que posteriormente revelou ao procurador-geral William Barr.
No livro de memórias, o ex-Conselheiro descreve ainda que Donald Trump não sabia que o Reino Unido era uma energia nuclear mundial. A questão terá sido realizada em 2018 quando Theresa May ainda era primeira-ministra do país, com Bolton a assumir no livro que sabia que a pergunta “vocês são uma energia nuclear?” entoada por Trump “não era uma piada”.
Donald Trump também terá questionado o ex-chefe de gabinete, John Kelly, se a Finlândia fazia parte da Rússia, ainda que não se saiba o contexto que originou a questão.
Possivelmente uma das maiores revelações de John Bolton é o facto de Mike Pompeo, Secretário de Estado, ter equacionado demitir-se devido a frustrações diárias ao trabalhar diretamente com o presidente norte-americano. Segundo Bolton, durante uma reunião do presidente com o líder da Coreia do Norte, o Secretário de Estado passou-lhe um papel onde dizia que o presidente era “mentiroso”.
Também o ex-chefe de gabinete terá dito a Bolton que estava “desesperado para sair daqui. Este é um lugar terrível para trabalhar, como vais descobrir”. John Bolton descreve ainda que o presidente “via conspirações atrás de pedras, e permanece incrivelmente desinformado sobre como gerir a Casa Branca, sem falar do governo federal”.
Devido a estas e mais revelações, o Departamento da Justiça norte-americana pediu aos tribunais para travarem a publicação do livro de memórias do ex-Conselheiro, que tem data prevista de publicação para 23 de junho nos Estados Unidos. A editora responsável pelo livro admitiu que o travão imposto pelo governo é um “exercício frívolo e politicamente motivado de futilidade”.
A editora responsável pelo livro de John Bolton também já anunciou a publicação de “Demais e Nunca Suficiente: Como a Minha Família Criou o Homem Mais Perigoso do Mundo”, escrito por Mary Trump, sobrinha do presidente norte-americano.
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