Poucas pessoas conhecerão uma entidade que dá pelo nome de Bank for International Settlements, ou BIS. Mas, com sede em Basileia e nascido entre as duas guerras mundiais, o BIS é hoje uma influentíssima instituição financeira que pertence a 63 bancos centrais e os aconselha e apoia na definição das políticas monetárias e na promoção da cooperação financeira entre as diferentes entidades nacionais.

Foi precisamente em Basileia que decorreu fora dos holofotes no final de Março, no Peterson Institute for International Economics, uma decisiva discussão sobre as moedas digitais dos bancos centrais e a qual contou com a participação do diretor-geral do BIS, Agustín Carstens. Segundo a intervenção de Carstens, a introdução das moedas digitais dos bancos centrais (com o acrónimo em inglês CBDC) na economia digital terá efeitos profundos para os utilizadores, bancos centrais, instituições financeiras e o sistema monetário internacional.

Uma CBDC de retalho poderia resolver problemas de longa data e emergentes em pagamentos, incentivar a concorrência, reduzir as taxas e estimular a inovação. As CBDC tornar-se-iam, assim, parte de um ecossistema com uma panóplia de fornecedores de pagamentos do setor privado e seriam projetadas para aumentar a eficiência sem prejudicar a política monetária dos bancos centrais e os mandatos de estabilidade financeira e, pelo contrário, melhorando  os atritos nos sistemas de bancos correspondentes atuais, como as diferenças nos horários de abertura dos sistemas de pagamento, padrões de comunicação variados e falta de transparência em torno da aplicação das taxas. “Bancos centrais de todo o mundo estão a colaborar para colocar esta grande ideia em prática” salientou o responsável do BIS.

Essa mencionada transformação da intenção em realidade foi aliás o tema de capa na mais recente “Economist”, que chamou às moedas digitais dos bancos centrais ‘GovCoins. “A disrupção menos notada na fronteira entre tecnologia e finanças pode acabar por ser a mais revolucionária: a criação de moedas digitais governamentais, que têm como objetivo permitir que as pessoas depositem fundos diretamente num banco central, contornando os credores convencionais.

Estas ‘GovCoins’ são uma nova encarnação do dinheiro. Elas prometem fazer as finanças funcionar melhor, mas também transferir o poder dos indivíduos para o Estado, alterar a geopolítica e mudar a forma como o capital é alocado. Elas devem ser tratadas com otimismo e humildade” avisa o autor do artigo, destacando que “esta metamorfose dos bancos centrais de aristocratas das finanças para seus trabalhadores parece rebuscada, mas está a caminho.

Mais de 50 autoridades monetárias, representando a maior parte do PIB global, estão a explorar moedas digitais. As Bahamas emitiram dinheiro digital. A China lançou como experiência piloto o e-yuan para 500.000 pessoas. A União Europeia quer um Euro virtual até 2025, a Grã-Bretanha lançou uma task-force e a América está a construir um hipotético edollar”.

Antecipar os efeitos desta revolução monetária é algo que deveria estar já na cabeça de quem é responsável pelas políticas públicas. Como alerta também a “Economist”, os governos precisam de preparar-se para esta mudança de paradigma com efeitos de longo prazo na forma como o dinheiro funciona. “Isso significa reforçar as Leis sobre privacidade, reformar o funcionamento dos bancos centrais e preparar a banca de retalho para um papel mais periférico. As moedas digitais estaduais são a próxima grande experimentação financeira. E prometem ser muito mais importantes do que a humilde caixa ATM”.

 

 

Da autoria de Nuno Gonçalo Poças e com prefácio de Paulo Portas, “Presos Por Um Fio – Portugal e as FP-25 de Abril” é um trabalho de investigação imperdível iluminando o sombrio período durante o qual um grupo terrorista de extrema-esquerda exterminava quem via como seus inimigos, tentando impor um ideário político obsoleto e democraticamente rejeitado nas urnas e, pelo meio, assaltando e roubando para proveito dos próprios.

 

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