O Ministro das Infraestruturas admite que “vai haver muitas dificuldades”, com a lotação dos comboios na Área Metropolitana de Lisboa (AML) e reconhece que não existe uma solução para resolver a grande pressão que vai começar a sentir-se.
Pedro Nuno Santos rejeita as acusações de diversos grupos parlamentares de que os comboios na área metropolitana da capital se encontram sobrelotados nas horas de ponta, havendo suspeitas de que poderá ser um dos motivos para o crescimento do número de infetados pela pandemia na região. Recordou que a sobrelotação nos comboios já existia antes da Covid, mas garantiu, apresentando números, que neste momento, as lotações médias em hora de ponta estão abaixo dos 50%.
Antes da Covid-19, “nós tínhamos na linha de Sintra os comboios a funcionar com 160% de capacidade, 140%, 130% de capacidade”, sublinhou ontem Pedro Nuno Santos, numa audição à Comissão Parlamentar de Economia, Obras Públicas e Inovação.
“Claro que temos problemas. Os problemas da linha de Sintra têm muitos anos. Temos uma linha ferroviária com problemas graves. O que significa que nós vamos ter uma pressão muito grande. Porque se nós tínhamos um sistema de transportes que acabava por ter uma sobrelotação de 120%, 130%, 140%, imaginem o constrangimento que nós estamos a provocar à mobilidade na Área Metropolitana de Lisboa quando estamos a limitar a capacidade a dois terços. Se nós já tínhamos problemas de mobilidade antes, em que as pessoas já tinham dificuldade em fazer a sua vida, nós estamos a dizer que vai ser impossível fazerem”, admitiu o governante.
Mas, Pedro Nuno Santos garantiu que, neste momento, a lotação média dos comboios da Área Metropolitana de Lisboa, em hora de ponta, no sentido da hora de ponta é de 35% entre Sintra e Alverca, de 26% entre Sintra e o Rossio, de 22% entre a Azambuja e Santa Apolónia, de 26% entre a Azambuja e alcântara e de 13% entre Cascais e o Cais do Sodré.
“Isto não quer dizer que nós não tenhamos alguns comboios que estejam neste momento a rondar os dois terços [de lotação]. Temos alguns comboios nessa situação. Isso, obviamente, é motivo de preocupação, tendo em conta que nós falamos de limitação de lotação, mas depois temos de passar para a frente e ver como é que vamos dar a volta a isso. À medida que as pessoas forem regressando ao trabalho, nós vamos começar a ter mais pressão sobre os transportes públicos. Nós estamos aqui numa encruzilhada, que é as pessoas precisam de fazer a sua vida e nós não temos capacidade efetiva relevante”, desabafou Pedro Nuno Santos na Assembleia da República.
O ministro das Infraestruturas prosseguiu: “Nós reconhecemos que vai haver muitas dificuldades. Nós temos limitações claras na infraestrutura e no material circulante para que nós possamos aumentar a oferta, porque a CP, ao contrário das empresas privadas de autocarros da Área Metropolitana de Lisboa, tem 100% de oferta desde o dia 4 de maio. Todos os comboios disponíveis, toda a oferta que nós tínhamos para a Área Metropolitana de Lisboa está em circulação. E está em circulação a perder dinheiro. Aliás, todas as empresas de transportes estão a perder dinheiro.
A este propósito, Pedro Nuno Santos revelou que, na CP, “já estivemos a perder 22 milhões de euros por mês”.
“Neste momento, estamos a perder 12 milhões de euros por mês. Não é pela limitação de lotação, é pela falta de procura”, justificou.
Não conseguimos em comboio ter um distanciamento social de dois metros
“E estão a perder dinheiro porquê? Não é só por causa da limitação a dois terços, porque a lotação está abaixo dos dois terços. E estamos sempre a falar da hora de ponta. É um problema que não é fácil de resolver e que temos em mãos. Com os dados objetivos que nós temos, a esmagadora maioria dos comboios não está em sobrelotação. Isso não quer dizer que as pessoas não sintam que estejam num ambiente de aglomeração. Não conseguimos num comboio ter um distanciamento social de dois metros, não é possível, ou então tínhamos um comboio a transportar muito pouca gente. Isso é inviável do ponto de vista da CP e é inviável do ponto de vista das necessidades das populações. É impossível nós fazermos isto. E por isso é que esta é uma questão tão delicada”, explicou Pedro Nuno Santos na referida audição.
Em relação ao perigo de contágio, o ministro das Infraestruturas relativizou a situação, dizendo que “temos mil trabalhadores da CP a trabalhar em contexto de comboios, dentro de comboios”, para concluir que “tivemos três infetados”.
“Nós fazemos a limpeza, a higienização domaterial circulante diariamente e, quando a rotação permite, fazemos mais do que uma vez por dia. Temos mais de 700 trabalhadores, a esmagadora maioria mulheres, a fazer a limpeza dos comboios. Não tivemos um único caso de infeção”, acrescentou o ministro.
Contra a limitação de lotação
Pedro Nuno Santos insurgiu-se também comtra a imposição de liitações de loytação nos comboios. “Somos um dos poucos países que temos a lotação restringida. Estamos a pedir o que em mais lado nenhum se está a pedir e em mais lado nenhum se está a fazer. Só para ter uma ideia, se não for ninguém em pé e todos os lugares sentados de um comboios da linha de Sintra estiverem ocupados, já temos um terço da lotação. Temos aqui um problema sério nas mãos. Estamos sempre à procura de solução”, admitiu o ministro das Infraestruturas.
Sobre a possibilidade de encontrar soluções para este problema, Pedro Nuno Santos revelou que “é possível com algumas alterações nos horários, nós termos alguns ganhos, que são sempre marginais”.
“A CP e a IP estão a trabalhar, a repensar os horários para ver se nós conseguimos aumentar marginalmente a capacidade da linha de Sintra. Pode parecer uma coisa simples, mas não é. Mexer em horários no caso dos comboios da linha de Sintra impacta com a linha Cintura, que por sua vez impacta com a linha do Norte, com os comboios que vão para o Algarve, com os comboios da Fertagus, com os comboios de transporte de mercadorias. Nós temos de pensar e organizar todos os horários do país”, anunciou Pedro Nuno Santos.
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