Talvez Zeinal Bava, antigo CEO da PT, se lhe assemelhasse um pouco, mas não chegava aos eflúvios de António Mexia: desde que aterrou na cena pública – política e empresarial – o CEO da EDP teve sempre a máxima preocupação da comunicação. Ao contrário de Manso Neto, por exemplo – a quem é praticamente impossível ouvir uma frase não programada – António Mexia trata todos os que se lhe aproximam como se fosse um velho conhecido que, na pior das hipóteses, não vê há muito tempo.
A preocupação acresce quando há jornalistas por perto: Mexia insiste em saber o nome próprio de cada um e o local onde trabalha, mesmo que esteja perante um batalhão deles numa visita a uma barragem, por exemplo, e fá-lo de uma forma tão natural que por momentos parece que estamos todos dentro do mesmo escalão de IRS.
Talvez António Mexia seja especialmente simpático, mas o fim em vista parece evidente: ter boa imprensa. É uma característica que escapa ao entendimento geral, mas ter boa imprensa é o primeiro passo para, tantas vezes de forma subliminar, perspetivar uma carreira pública sem grandes entroncamentos e em passadeira prioritária.
Não pode haver certeza disso, mas com certeza que a proposta de marketing que é o surgimento de António Mexia no interior de uma sala explica parte do sucesso que o gestor mantém junto dos acionistas com quem tem de se confrontar e a quem tem de responder – sejam eles a figura difusa do Estado português ou a figura ainda mais difusa de um investidor chinês.
Também há-de ser por aí que se explica a forma como António Mexia passou pela cena política de forma dura, sem que isso chamuscasse minimamente a sua carreira: foi um dos poucos portugueses (mais propriamente 21) que aceitou fazer parte, como ministro, do XVI governo constitucional, liderado por Pedro Santana Lopes (um caso sério de abuso de boa imprensa) e que se manteve em funções entre 17 de julho de 2004 e 12 de março de 2005, antes de o então Presidente da República, Jorge Sampaio os ter posto a todos de castigo.
António Mexia foi ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações – numa altura em que semelhante amálgama ainda fazia sentido – e um ano depois do fim da aventura ‘lopista’ o ex-ministro dava entrada na EDP pela porta grande, para assumir funções de presidente executivo da administração da elétrica nacional.
O mínimo que se pode dizer de António Mexia é que, antes de chegar à EDP, tenha estado parado: para além de ter sido professor na Universidade Nova de Lisboa e na Católica , foi assistente do secretário de Estado do Comércio Exterior, vice-presidente do conselho de administração da ICEP (Instituto Português do Comércio Exterior), administrador do Banco Espírito Santo de Investimentos, presidente do conselho de administração da Gás de Portugal e da Transgás, vice-presidente do conselho de administração da Galp Energia, passando depois a presidente executivo. Tudo isto entre 1982 e 2000.
Fulgurante? Nada que não se espera de alguém que (nascido em 12 de julho de 1957 em Lisboa), obteve um diploma em Economia pela Universidade de Genebra (Suíça) e nunca escondeu a sua vontade de chegar longe.
E chegou tão longe que não seria qualquer primeiro-ministro que lhe iria, a partir de março de 2006, fazer frente. Ficou isso bem claro ao longo dos anos, quando de todas as vezes que os jornais falavam dos excessos de rendas da elétrica nacional, a conversa era rapidamente relegada para o lugar da incompreensão: entre obrigações contratuais decorrentes da reprivatização, normas europeias de difícil escalada e outro palavreado avulso, a muro da EDP era basicamente indestrutível e a saudável vontade de alguns políticos colocarem os portugueses a pagarem menos pelo gesto irrefletido de acender um candeeiro nunca chegou a lado nenhum – o último que sentiu isso na pele foi o antigo secretário de Estado da Energia João Galamba, que por acaso também não tinha má imprensa. Muitos o tentaram e, para além de umas minudências, nenhum o conseguiu.
Do que de qualquer modo António Mexia não se livra – mesmo que alegue não ser culpa dele – é de ouvir dizer que os custos da energia e nomeadamente da eletricidade são há pelo menos duas décadas apontados como um dos custos de contexto mais onerosos do país para quem quer investir na área produtiva.
Mesmo assim, por uma daquelas razões que a razão só alcança com dificuldade, a inventiva da Justiça sobre António Mexia e o verdadeiro choque elétrico que lhe provocou – e ao contrário de Manso Neto – não parece ter surpreendido toda a gente. Mas isso, possivelmente, é inveja, por causa daquela história dos escalões do IRS.
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