A semana que está a terminar ficou marcada pela acusação no caso BES, seis anos após o colapso do banco. Tal como se esperava, Ricardo Salgado foi acusado da prática de dezenas de crimes, cabendo agora à Justiça determinar se é culpado daquilo que o acusam. Todos têm direito à presunção de inocência até ao trânsito em julgado. O mesmo sucede com muitas outras pessoas, famosas e anónimas, que estão a braços com a Justiça.

Porém, uma coisa é a lei, outra a ética. E viver de forma ética implica, por definição, procurar não lesar as outras pessoas. Uma pessoa pode cumprir a lei e ao mesmo tempo ter um comportamento absolutamente anti-ético. O oposto é igualmente verdade, pois a História demonstra que existem situações em que, para vivermos de forma ética, podemos ter de desobedecer a leis injustas, que põem em causa direitos fundamentais. Os guardas dos campos de concentração nazis eram, em muitos casos, cidadãos cumpridores das leis do seu país, mas que todos os dias violavam um conjunto de princípios éticos a que todos os seres humanos estão obrigados, sob pena de se colocarem a si mesmos fora do mundo civilizado.

É que, ao contrário da lei e da moral, que se aplicam apenas em determinadas jurisdições, culturas ou religiões, a ética tem uma vocação universal e assenta nesta ideia simples, mas poderosa, de não lesar, isto é, não fazer aos outros aquilo que não queremos que nos façam a nós. E, entre outras coisas, ninguém gosta de ser iludido, de perder as poupanças ou de ter de pagar mais impostos por causa da má governação de decisores políticos e económicos, independentemente de esta ter tido, ou não, contornos criminais.

Salgado e outros arguidos são culpados dos crimes de que são acusados? Em consciência, não sabemos. Só a Justiça poderá responder a essa questão. Mas tendo em conta a informação que veio a público, já dispomos de elementos suficientes para que possamos avaliar se, no desempenho das suas funções, essas pessoas agiram de forma ética, isto é, se lesaram ou não a sua comunidade e os seus concidadãos. Este direito, que cada um de nós pode exercer de acordo com a sua consciência, ninguém pode tirar. Não tenhamos receio de exercer este direito e de sermos mais exigentes com a forma como os nossos decisores políticos e económicos encaram os temas éticos, porque disso depende o nosso bem estar coletivo e, no limite, o futuro do país.