As árvores têm um papel fundamental em termos ambientais, paisagísticos e históricos e são essenciais para a promoção da qualidade de vida. No entanto, muitas vezes, a forma como é gerido o arvoredo em meio urbano parece ignorar esse facto.
Têm sido numerosos os casos de autênticos arboricídios que acontecem um pouco por todo o país, muito devido à ausência de critérios no planeamento e gestão do património arbóreo.
Lisboa, apesar de ter um Regulamento Municipal do Arvoredo desde 2017, acaba por não ser um bom exemplo neste campo, pois continuam a verificar-se podas excessivas e realizadas fora de época, abates de árvores para dar lugar a projectos urbanísticos, calcetamento de caldeiras, entre outras intervenções. Aliás, chegámos ao cúmulo de ter abates de árvores para criar espaços verdes.
Face a estes episódios, o sentimento apenas pode ser de contestação e repúdio, salientando a contradição com o facto de Lisboa ser a Capital Verde Europeia 2020. É verdade que a autarquia tem procedido à plantação de árvores, o que é muito importante e deve ser valorizado, mas isso não pode justificar a incúria a que são votados os exemplares existentes, principalmente quando se sabe que uma árvore jovem não propicia os mesmos efeitos que uma árvore adulta. De resto, também se sabe que muitas árvores jovens plantadas pela autarquia não sobrevivem por falta de cuidados.
O Regulamento Municipal do Arvoredo de Lisboa é, sem dúvida, importante. Mas, tal como foi elaborado, não protege as árvores da cidade, e a degradação da manutenção do arvoredo e dos espaços verdes deve-se muito à sua fragmentação pelas 24 freguesias, que o transformou numa manta de retalhos.
É inegável que as alterações feitas na Assembleia Municipal desvirtuaram o regulamento original, que havia sido redigido e aprovado na Câmara após o processo de consulta pública. Resultado: Lisboa passou a ter um regulamento do arvoredo que descuida as próprias árvores. Ou seja, é ineficaz e apenas veio legitimar a desregulamentação da gestão das árvores da cidade.
Assim, nesta fase, é importante promover um espaço de discussão e informação e conhecer o ponto de situação sobre a implementação desse regulamento. Foi justamente com essa finalidade que o Partido Ecologista Os Verdes propôs uma audição pública, que permita auscultar todas as partes interessadas sobre o assunto e trabalhar em soluções mais sustentáveis.
Desde logo, é preciso preservar as árvores que existem, investir nos viveiros municipais e reactivar a Escola de Jardinagem, enquanto principal campo de formação de jardineiros e como forma de reverter as concessões a empresas privadas para a manutenção dos espaços verdes, que levam a despesas de milhões de euros.
É preciso trazer a natureza de volta para os meios urbanos e aprender a cuidar dela. As árvores são seres vivos que fazem parte da nossa vivência e devem ser geridas de forma coerente e integrada, reflectindo a relação das cidades e das pessoas com o ambiente e o compromisso com um desenvolvimento harmonioso e sustentável.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.