Neste início de ano lectivo, o governo perdeu várias oportunidades para mostrar que o país aprendeu, de facto, com a crise sanitária que temos vivido.
Desde logo, a oportunidade única de reduzir finalmente o número de alunos por turma, o que iria melhorar significativamente as condições do processo de ensino e aprendizagem e promover maior sucesso escolar, mas também permitiria garantir o distanciamento social necessário entre os alunos, reduzindo o número de contágios durante a crise sanitária que (ainda) vivemos.
Este seria também o momento certo para avaliar a necessidade de contratações para o ensino. A contratação de 600 assistentes operacionais é encarada pelos directores das escolas como um passo fundamental, a acrescentar aos cerca de 28.500 professores que foram colocados nas escolas a um mês do arranque do ano lectivo (e aos cerca de 200 docentes que ficaram sem componente lectiva). Uma necessidade bem sabemos de cariz estrutural, mas que se evidencia mais do que nunca no contexto presente e em que deveria ser uma oportunidade para o governo traçar um fiel diagnóstico do nosso ensino, a par do necessário reconhecimento dos profissionais que ficaram presos a categorias e valores salariais não actualizados, da falta de recursos humanos, particularmente assistentes operacionais e da disponibilização de verbas para a melhoria de condições escolares.
Se há momento em que seria fundamental efectivar a correcta transição digital nas escolas, seria precisamente agora, em que é fundamental garantir a igualdade de todos os alunos no acesso ao ensino. Bem sabemos que nada substitui o ensino presencial, mas se há algo que aprendemos (ou que devíamos ter aprendido) com o ensino à distância durante os últimos meses é que nem todas as crianças e jovens têm a mesma condição socioeconómica. Nem todas têm um computador em casa ou acesso à internet. A anunciada dotação de dotação de 226 milhões e 500 mil euros prevista no programa de estabilidade para a digitalização na educação pode e deve contribuir para a implementação do Plano de Ação para a Transição Digital do governo, procurando assegurar a igualdade de oportunidades para que se consiga quebrar o ciclo de pobreza e privação material que continua a atingir sobretudo crianças e jovens.
Este devia ser um momento para avaliar o modelo educativo, para garantir mais meios e mais investimento, para reduzir desigualdades e assimetrias sociais. Que lições estamos a tirar para além da nossa capacidade de ir reagindo ao imediato? Se a escola é um elevador social, que este seja o momento de colocar esse elevador em funcionamento.