Como se o país não parecesse já mais um circo que outra coisa, eis senão quando o nosso primeiro-ministro integra a comissão de honra de Luís Filipe Vieira na corrida às presidenciais benfiquistas.
Por acaso, em jeito de nota, começo a perceber melhor o jeito para entertainer do nosso PM – é que só hoje “descobri” que ele é primo do José Castelo Branco… estas coisas de sangue nunca enganam.
Eu não chego a perceber se o António Costa tem um problema de percepção e interpretação do que o rodeia ou se se está mesmo a borrifar para nós, portugueses. Infelizmente, sinto que a segunda é a opção certa.
Deixem-me recordar que tendo feito parte do governo de José Sócrates, ainda o ano passado afirmava que “nos dois anos em que fui ministro de José Sócrates, nunca tive um sinal que levantasse a menor suspeita sobre o seu comportamento nem depois disso tive qualquer suspeita até ao momento em que começaram a haver notícias sobre essas matérias”. E afirmou também nesse mesmo programa que não consegue “conviver com quem tenha praticado actos de corrupção”.
Posto isto, integra a comissão de honra de Luís Filipe Vieira.
O mesmo que em 1993 foi condenado a 20 meses de prisão pelo roubo de um camião.
O mesmo LFV que está indiciado, na chamada Operação Lex, por crimes de fraude fiscal, branqueamento de capitais, tráfico de influências e corrupção.
O mesmo LVF, dono da Promovalor, que originou perdas de 225,1 milhões de euros ao Novo Banco, que todos nós estamos a pagar.
O mesmo LVF que, não obstante o prejuízo já dado ao Novo Banco, no início de 2020 foi buscar, desta vez para o Benfica, ao (mesmo) Novo Banco 28 milhões de euros, parte duma linha de financiamento aprovada de 30 milhões de euros. A Promovalor e o Benfica não são a mesma coisa? Não. Mas o seu responsável é o mesmo.
O mesmo LFV que em 2018 recebeu um email do filho, Tiago Vieira, dizendo “Pai, já cá canta!!! Sem o teu empurrão não íamos lá! Beijo grande!” a propósito da isenção de IMI num imóvel que a sua sociedade pretendia vender. Dias depois a direcção do clube recebia um email a solicitar dois bilhetes para o Mário Centeno assistir ao jogo SLB – FC Porto na Tribuna Presidencial.
Até posso dar de barato o tema dos bilhetes mas não posso tolerar que a promiscuidade entre politica e futebol lese o meu património e o de todos os portugueses. As dívidas da empresa do LFV que foram “perdoadas” no Novo Banco foram auditadas? Na realidade, ando há que tempos para escrever sobre a inutilidade das auditorias … mas alguém se preocupou em saber com que base ou análise de risco os créditos tinham sido concedidos? E garantidos, foram? O património do LFV e dos filhos não pode ser utilizado para liquidar as dívidas? Mas o nosso pode? Para pagar ao Fundo de Resolução o que este, por sua vez, paga ao Novo Banco?
E o António Costa faz-se de virgem ofendida por (supostamente) desconhecer o pagamento do Ministério das Finanças ao Novo Banco – previsto por ele próprio no orçamento – mas participa na comissão de honra de quem viu serem apagados do seu rol de dívidas 225 milhões? Que nós pagamos?
Se nos crimes de branqueamento de capitais ou corrupção podemos sempre recorrer do “alegadamente”… até prova em contrário, o Sr. é inocente, no que tem relação com o Novo Banco, não há dúvidas sobre o prejuízo que o LFV infligiu ao Estado português. Estado esse que o António Costa encabeça enquanto primeiro ministro.
E vem dizer que fazer parte da comissão de honra do LFV não tem nada a ver com política? Ele saberá o que é honra? Porque política sabe com toda a certeza! Nunca fez, aliás, mais nada na vida.