A presidente da Câmara de Almada disse, numa reunião camarária, que gostaria de viver num bairro social da cidade, no caso o Bairro Amarelo, pois eles têm uma vista “maravilhosa”. Foi ao ponto de dizer que se mudaria para lá “amanhã”.
Bem, passada uma semana ainda não está lá, o que me parece bem: se conseguisse mudar num dia teria seguramente usado algum privilégio da posição, pois ter os contratos todos em ordem – desde a atribuição da casa aos fornecimentos de água, eletricidade, mudar a residência fiscal, etc., – é obra. Não vejo como se trata num dia, a menos que ela pensasse num primeiro momento viver clandestinamente lá, o que não cairia bem.
Vamos dar-lhe tempo para a mudança e ser mais pacientes, que esta é uma verdadeira medida de aproximação do poder autárquico aos munícipes. E assim ela consegue um objetivo que traçou de lançar uma política de mistura de diferentes grupos sociais, o que me parece ser o caso embora não saiba bem – porque não moro lá – que grupo social predomina no Bairro Amarelo. Não me parece que são os chineses, até porque batizá-lo assim teria laivos de xenofobia.
Já agora, a nossa presidente deveria ter cuidado com os nomes dos bairros, particularmente nesta época em que se derrubam estátuas, e escolher nomes neutros, por exemplo, bairro cinzento ou, porque não atendendo à vista maravilhosa, bairro azul (será que já existe um?).
Por falar em azul, e em mudanças, mudança de casa a sério foi a da lagosta azul que se encontra agora no Jardim Zoológico de Akron, e que antes estava numa cervejaria de Cuyahoga Falls, no Ohio, EUA, em risco de ser servida numa cataplana ou à Thermidor. Seria uma pena, pois só há uma lagosta azul em cada dois milhões de lagostas americanas, e foi o que a salvou de acabar cozinhada. Aliás, esta sim, mudou mesmo de casa de um dia para o outro.
Acredito que o bicho também ache que no Zoológico tem uma vista maravilhosa, sobretudo se compararmos com o interior duma panela. E, coincidência das coincidências, também esta lagosta é do sexo feminino.
Voltando aos humanos, eu, e apesar de não ter uma vista maravilhosa, preferiria ir morar para Olten, na Suíça, onde uma avaria no sistema de ventilação numa fábrica de chocolate da Lindt & Spruengli provocou, graças aos fortes ventos da altura, uma nuvem de pó de cacau na vizinhança da fábrica, a que os residentes chamaram “neve de chocolate”. Não fora ter sido em agosto, dir-se-ia que o Natal, época de doces e guloseimas, estava a chegar mais cedo.
Isto sim, é muito melhor que morar no Bairro Amarelo. Portanto, a presidente que vá morar para lá, eu prefiro outros ares às vistas. Agora fica por resolver uma questão: ela quer ir morar para o Bairro Amarelo e participar na mistura de grupos sociais. Só falta saber se eles, no Bairro Amarelo, a querem por lá.