No parêntesis fictício para onde a Covid nos empurrou, tem-se ensaiado a viabilidade de recursos de adaptação às novas condições da nossa existência; a pandemia catalisou a adopção de certas medidas, algumas delas já propostas antes da necessidade de fintar o vírus e outras implementaram-se como uma exigência iminente de precaução.
As novas tecnologias deram suporte a tele-muita-coisa. Mas depressa se concluiu que, se para a maioria delas funcionava, o mesmo não se aplicava à Escola. Desde estudos que vieram confirmar (o que parecia evidente à primeira vista) que a desigualdade entre a população estudantil aumentava com as aulas à distância, até à assunção por parte dos alunos, em entrevistas dadas em reportagens de televisão, das saudades que sentiam dos amigos, dos colegas e até… dos professores, tudo veio apontar para a necessidade das aulas presenciais.
A função da Escola não se esgota na simples transmissão de “pacotes” de conhecimento organizados em “menus” adaptados às idades físicas visando apenas o aperfeiçoamento de determinadas capacidades cognitivas. Se assim fosse o empreendimento resultaria muito melhor. Nem tinham de encomendar, era só consumir!
Mas a missão da Escola é também a de tornar acessível aos seus alunos aspectos da cultura fundamentais para o seu desenvolvimento pessoal, entendido de uma forma global, e não apenas na vertente intelectiva, isto é, incluindo capacidades de equilíbrio pessoal, de inserção social e de relação interpessoal. E estes perdem-se quando a casa se transforma na escola.
Já no final do século passado, Novak chamava a atenção para a importância do papel desempenhado pelos estímulos afectivos na aprendizagem. É o estudante como um todo, corpo e mente, que aprende e as emoções activam e reforçam este processo.
Esta interacção entre pensamento, sentimentos e acções defendida por Novak na sua teoria da educação tem sido confirmada por trabalhos na área das ciências da cognição, como por exemplo, os de Damásio e será, porventura, uma das razões que explicam porque as aulas presenciais são insubstituíveis.
Mas se é consensual que a Escola à distância acentua as desigualdades entre alunos, que naquela se perde a vertente afectiva, que é um remedeio e não uma opção face à “escola física”, não esqueçamos que nesta as desigualdades subsistem e que continua a enfermar de falhas e carências.
Nas nossas Escolas aposta-se muito no trabalho para “a resposta certa”, a que é cotada, a que lança o estabelecimento de ensino para os lugares da frente dos rankings; insiste-se em estratégias que pressionam os alunos no sentido de identificar e memorizar conteúdos que aqueles repetem sem que lhes atribuam significado.
Ensino e treino são duas práticas muito diferentes nos métodos que utilizam e, como consequência, têm resultados também eles muito diferentes.
A aprendizagem não deve ser conceptualizada como resposta a estímulos, nem como um mero processamento de absorção passiva de informação, mas antes um processo activo apropriado criticamente pelo aluno. As respostas memorizadas tornam-se inúteis quando o problema muda; o que se pede é que a educação possa providenciar a competência para que cada um faça a pergunta adequada e disponha de meios para encontrar as suas próprias respostas.
Não podemos munir os alunos de um “mapa” pelo qual eles se guiarão num futuro previsível; temos, de facto, de equipá-los com a destreza e a confiança necessárias para que possam usá-las na busca do seu próprio caminho, num futuro cuja natureza não podemos prever; e ao dar-lhes maior protagonismo no processo de construção do conhecimento os capacitamos para tomar decisões e encarar com confiança situações problemáticas, incertezas e mudanças.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.