Que a pandemia está a constituir uma ameaça para os cidadãos dos Estados Unidos da América não resta a mínima dúvida malgrado a desvalorização que Donald Trump faz da mesma. Uma atitude iniciada ainda antes da chegada do coronavírus aos EUA e que não sofreu alteração significativa mesmo quando testou positivo e foi internado um fim de semana no Walter Reed National Military Medical Center.

Uma desvalorização que quase raiou o impensável quando, segundo o “New York Times”, Trump quis sair do hospital envergando a t-shirt do Super-Homem. A imagem que cultiva de si mesmo e que não se compadece com a circunstância de o país que lhe calhou (des)governar ser o mais afetado pela Covid-19, contando com mais de oito milhões de infetados e mais de duas centenas de milhar de mortos.

O que Donald Trump não consegue evitar é a influência do coronavírus na próxima eleição presidencial. De facto, o receio da pandemia levou a que cerca de 20 milhões de norte-americanos já tivessem exercido o direito de voto, tanto na forma presencial – processo iniciado em 18 de setembro no Minnesota e no Dakota do Sul – como pelo correio, com a Carolina do Norte a dar o tiro de partida. Aliás, é bem possível que larga maioria dos 250 milhões de eleitores não esperem pelo dia 3 de novembro para depositar o voto na urna.

A circunstância de os votos por correio poderem ser solicitados pelos cidadãos na condição de simples eleitores, mas também na qualidade de membros de um partido permite tirar algumas ilações. Algo que se afigura pertinente sobretudo nos swing states. Vejamos um desses casos.

Assim, na Florida, os simpatizantes do Partido Democrata, ou seja, os presumíveis apoiantes de Joe Biden, solicitaram 2.597.056 boletins de voto e, até dia 18 de outubro, já votaram 1.221.809, ou seja, 47%, enquanto os membros do Partido Republicano e possíveis votantes em Trump requisitaram apenas 1.797.634 boletins e devolveram 753.711, isto é, 41.9%.

Estes números apontam para uma vantagem de  Biden, mas deverá ser tomado em linha de conta que 1.283.206 eleitores sem filiação partidária também solicitaram o boletim de voto e 491.154, isto é, 38.3%  já o preencheram e devolveram, sem que se possa saber a priori  o candidato que preferiram. Porém, como a Florida é o terceiro estado com mais casos confirmados e o quinto com mais mortes por Covid-19, talvez não seja abusivo concluir que, desta vez, cairá para o lado democrata.

Segundo uma contagem levada a cabo pela Associated Press em 42 estados, Biden vai à frente no que concerne ao voto antecipado, mas aguarda-se um vigoroso sprint final por parte de Trump, até porque o vírus parece não ter deixado novas sequelas. Se esse sprint será suficiente para ficar na Casa Branca, uma residência de onde não quer sair e por isso ameaçou, tal como em 2016, não aceitar uma eventual derrota, são contas de outro rosário. Aquele em que a política trumpiana de desinformação relativamente à real dimensão da pandemia também entra e provavelmente para  penalizar o candidato à reeleição.

O Super-Homem da banda desenhada não resistia à criptonite. Este pretenso Super-Homem talvez tenha na falta de autenticidade ou na manipulação da verdade a sua criptonite eleitoral.