Desde o início da pandemia que o uso de máscara como prevenção da Covid-19 tem sido profusamente discutido. Entre o uso voluntário, à obrigatoriedade em espaços fechados, encontramo-nos na fase de evoluir para o uso imposto em espaço aberto, mesmo quando se respeita o distanciamento social. Países houve que assumiram desde o início o uso permanente de máscara, como fator preventivo da disseminação da doença, e foram muitos os que voluntariamente recorreram ao seu uso, como forma de incutir segurança e precaução.
A Covid-19 tem deixado marcas significativas na vida de todos com alterações de comportamento, mais ou menos vincadas, e cuja duração ainda desconhecemos.
À medida que o tempo passa começamos a sentir a pressão e agora, em plena segunda vaga, exige-se cuidado redobrado. Os sinais de cansaço começaram a sentir-se no final do verão e com eles o relaxar dos cuidados. O crescimento exponencial dos casos de infeção e de internamento, com especial ênfase na Europa, obriga a novos cenários de rigor, de controlo, e a necessidade de assumir a prossecução de medidas que, sendo diferentes, visam travar a progressão da doença.
A visibilidade do sentimento de exaustão exige maior determinação e entendimento entre políticos, técnicos e cientistas, com respeito pela opinião de cada um, de modo a impedir a implosão do SNS e as consequências derivadas de vítimas mortais e de infetados, que podem ficar com sequelas para a sua vida futura.
Exige-se o regresso à Primavera do Consenso para não se tornar no Outono do Retrocesso. No balanço entre direitos e liberdades, vale o exercício do direito à proteção da saúde, que alinha com o direito à vida, numa dimensão de dispor de uma sociedade saudável.
Momento determinante quando assistimos a grupelhos negacionistas com argumentos falaciosos relativos aos efeitos do vírus ou ao surgimento de movimentos libertários que invocam a dimensão constitucional dos direitos e liberdades dos cidadãos, pela recusa da imposição da obrigação do uso de máscara. Aqueles que negam a doença, caracterizando-a como uma invenção para controlar os cidadãos, assume, uma postura irracional e perversa da sociedade. Num patamar distinto, os que alegam o valor absoluto da liberdade de escolha perante uma imposição, elevam a sua posição ao nível do direito ao egoísmo absoluto, quando é a liberdade de todos que fica em causa.
A desvalorização inicial da relevância da máscara por parte dos responsáveis políticos, do primeiro-ministro à ministra da saúde, incluindo a DGS, contribuiu para a sua atual secundarização, sendo que até a OMS assumiu inicialmente esta postura. Perante a inevitabilidade da mudança de opinião, apesar da incomodidade perante a confirmação da eficácia do uso, constitui uma responsabilidade do coletivo para o benefício individual.
Tal como confinámos em março antes do decreto presidencial, cumpre mais uma vez anteciparmo-nos ao decisor político, que é sempre lento a assumir. Decidimos, porque faz falta. Porque com a máscara vem a vida.