Os Prémios Pfizer, os mais antigos da investigação biomédica em Portugal, distinguem este ano trabalhos sobre uma potencial vacina contra a malária, o papel do cérebro na saúde intestinal e o das células imunitárias na memória, anunciou a organização.
Na edição de 2020 foram premiados três projetos, um de investigação clínica, liderado pelo cientista Miguel Prudêncio, do Instituto de Medicina Molecular (IMM) João Lobo Antunes, e dois de investigação básica, um coordenado por Henrique Veiga-Fernandes, do Centro Champalimaud, e outro por Julie Ribot, do IMM.
Os trabalhos de investigação básica vão receber, cada um, 12.500 euros e o de investigação clínica 25 mil euros. A entrega dos prémios será feita hoje, em Oeiras.
A equipa liderada pelo imunologista Henrique Veiga-Fernandes, do Centro Champalimaud, concluiu que as pessoas que trabalham à noite ou que mudam frequentemente de fuso horário têm mais probabilidade de desenvolver inflamações intestinais, uma vez que há células do sistema imunitário que contribuem para a saúde intestinal que deixam de receber informações vitais do cérebro.
Essas células são as células linfoides inatas de tipo 3 (ILC3), que no intestino lutam por exemplo contra as infeções e são particularmente sensíveis às perturbações dos seus “genes relógio” (que indicam a hora do dia às células).
Estes “pequenos relógios” são sincronizados pelo “grande relógio” do cérebro (dá, por exemplo, a informação sobre o dia e a noite) que, se estiver desregulado, vai perturbar a “maquinaria” molecular das ILC3, aumentando as infeções intestinais.
A investigadora Julie Ribot, do IMM, descobriu, usando ratinhos como modelos, que as células T gama delta – um subgrupo de células imunitárias que produz uma molécula, a IL-17, e reside nas meninges cerebrais – controlam a memória de curto prazo.
Premiado na categoria de investigação clínica, o trabalho conduzido por uma equipa internacional liderada por Miguel Prudêncio, também investigador do IMM, testou em 24 voluntários saudáveis uma potencial nova vacina contra a malária, que reduziu em 95% a carga do parasita ‘Plasmodium’ no fígado, órgão onde começa a infeção sem provocar sintomas.
Para que possa conferir proteção contra a malária, esta possível vacina tem de “bloquear por completo” a infeção no fígado, onde o parasita se multiplica antes de infetar as células sanguíneas, desencadeando sintomas da doença.
Miguel Prudêncio adiantou à Lusa, fazendo um ponto da situação do trabalho, que a eficácia da potencial vacina terá de ser testada com doses mais elevadas, administradas por injeção (e não submetendo os voluntários a picadas de mosquitos contendo o parasita que causa a malária em roedores, mas inofensivo para humanos, e que no ensaio inicial foi geneticamente modificado para conter uma proteína do parasita da malária humana).
Por outro lado, terão de ser adicionadas outras proteínas do parasita da malária humana aos parasitas de roedores geneticamente modificados, um processo que já está a ser trabalhado em laboratório.
Criados em 1956, os Prémios Pfizer distinguem os trabalhos de investigação básica e clínica feitos total ou parcialmente em instituições portuguesas por cientistas portugueses ou estrangeiros.
A farmacêutica Pfizer financia os prémios, cujo processo de receção e avaliação das candidaturas é organizado pela Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa.
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