A perspetiva de uma coligação de centro-direita assumir o governo nos Açores traduz uma manifesta vontade de mudar o que o voto popular traduziu. É certo que os socialistas ganharam as eleições, mas perderam a maioria absoluta que tinham e, sobretudo, não conseguiram mobilizar nenhuma outra força política para uma solução governativa.

A coligação formal PSD/CDS/PPM, que conjuga princípios e valores idênticos, pode proporcionar uma oportunidade para a região assumir a modernidade que parecia já brotar de uma abertura ao exterior durante muito tempo desconsiderada. O recente crescimento do turismo, pelo menos até à pandemia, mostrava já um empreendedorismo na hotelaria e na restauração, no aproveitamento das atividades marítimas e em todos os serviços conexos, que fizeram despertar toda a beleza, para muitos desconhecida, do ímpar arquipélago situado em pleno Atlântico.

A reação socialista era esperada. Reclamando a efetiva vitória não admite estender à região o desiderato constitucional que obriga à formação de uma maioria. Escamoteia a herança do continente quando o seu líder nacional ignorou uma mesma vitória dos seus adversários e formou governo em condições ainda mais gravosas, nunca assumindo para o Governo a participação dos partidos que condicionaram toda a legislatura anterior.

A arrogância política do PS, incapaz de aceitar as regras de convivência democrática de incidência parlamentar, mostra bem o mau perder e um sentido de superioridade sempre presente no discurso da esquerda, na região como no país.

A mudança agora confirmada nos Açores ilustra a transformação de um território livre de dependências e que aspira à modernidade. Espaço que se galvaniza e reclama a sua participação no mundo global. Os Açores não são a terra dos emigrantes, nem de cidadãos de estatuto menor, dispõem de uma identidade própria, de disponibilidade e de querer, bastando ter oportunidade.

Nas últimas duas décadas a região não acompanhou o mundo. Mas os açorianos reclamavam o seu espaço. O futuro governo apenas terá de proporcionar o sonho.

A coligação que se apresenta para governar tem como base os partidos que assumiram a Aliança Democrática. E tem um desafio acrescido, mas apetecido, pelo condicionamento dos partidos que viabilizam agora, mas não garantem um apoio incondicional. Apesar de uma conjuntura favorável, o governo terá de arregaçar as mangas e assumir um combate político feroz. Não cair na malha dos extremismos, nem se deixar condicionar por radicais que naquele território nunca existiram, trabalhando para criar uma sociedade mais aberta e menos dependente.

Os agentes políticos regionais ou nacionais não podem ficar reféns de qualquer negociação que ponha em causa os seus princípios e valores. Neste novo cenário onde todos se respeitam há lugar para limites, de discurso e de opções, em termos locais e nacionais. Agora já Chega! É tempo de assumir um novo projeto, com novos objetivos, que floresça e sirva de exemplo para uma governação nova.