Trump perdeu as eleições. Irá aceitar o resultado e deixar a Casa Branca ou alegar fraude eleitoral e recusar-se a sair?
Não está sozinho: em 1874 o Governador Davis perdeu, acusou o seu adversário de fraude e barricou-se no edifício; só saiu três dias depois. Em 1946 a Georgia teve a “crise dos três governadores” quando o eleito morreu antes da posse e três reivindicaram o lugar. A assembleia do Estado decidiu-se pelo filho do eleito e o governador cessante recusou-se a deixar o posto – os dois ocuparam o edifício até a fechadura ser mudada.
Roosevelt não quis seguir a prática instituída desde Washington e candidatou-se ao terceiro mandato, depois ao quarto, e só deixou a Casa Branca quando morreu. Em 1951 foi aprovada a 22ª Emenda Constitucional, que limita os mandatos a dois.
Fraudes eleitorais são coisa velha. Na Grécia antiga votava-se anualmente em cacos de cerâmica, os ostraca, se alguém era exilado dez anos. Era ostracizado quem tinha seis mil votos – aconteceu a Aristides, Temístocles, Alcibíades e Tucídides. Em 1966 foram encontrados em Kerameikos 8.500 ostraca, alguns com a mesma caligrafia e vindos do mesmo pote, partido no local – indício de fraude. Estas coisas chegaram a outros tempos e outros continentes.
Charles King ganhou as eleições presidenciais na Libéria em 1927 com 243 mil votos quando havia 15 mil votantes. Indira Gandhi foi condenada por fraude nas eleições de 1971 a afastar-se da política por seis anos, mas não deixou o cargo e perante as manifestações contra si declarou o estado de emergência, prendeu opositores e restringiu liberdades. Nas Filipinas de Marcos as urnas caiam de helicópteros no meio da selva.
Nos EUA, Truman contou com a “ajuda” de Pendergast nas eleições de 1934 para o Senado no Missouri. Nas presidenciais de 1960, em Angelina County votaram 86 eleitores e Kennedy ganhou por 147 votos contra 24 de Nixon; em Fannin os 4.895 votantes deram-lhe 6.138 votos (75% do total); e os votos invalidados desapareceram antes de verificados. Em Chicago ganhou as eleições por mais de 456 mil votos, com uma participação de 89%, nunca vista (o máximo de sempre é 78,4%, no Utah). Foi eleito por 119 mil votos.
Nas presidenciais de 2000, G. W. Bush ganhou na Florida por 537 votos. O voto afro-americano favorecia Gore a 93%, e o número de criminosos (não votam) de cor foi estranhamente elevado, com datas de condenação que se estendiam até 2007 (há bruxas); em contrapartida apenas houve 0,1% de hispânicos, que eram mais de 20% da população; em Tallahassee foram impedidos de votar 694 para depois se verificar que apenas 33 eram criminosos; em Madison County a supervisora Linda Howell não validou a lista de “proibidos” por ela própria figurar nela.
Portanto, Trump tem muito onde se inspirar para se agarrar ao lugar, e as nomeações que fez para o Supremo preparam o caminho. Mas se o fizer uma coisa vai ficar clara: a maior fraude nas eleições é ele próprio.