O Turismo é o setor mais afetado pela pandemia e deverá ser um dos que vai demorar mais tempo a recuperar. Atendendo ao forte contributo que este tem para a economia nacional, com receitas turísticas a representar 8% do PIB, em 2018, e 8,7%, em 2019, é inevitável um impacto negativo na mesma. De acordo com um estudo recente da PwC, o impacto esperado no VAB em 2020 está entre -22% e -54%.

Os últimos anos foram de grande aposta no setor, tendo sido um dos pilares relevantes para a recuperação da última crise. Nos últimos quatro anos, alcançou o seu melhor desempenho, conseguindo criar uma marca reconhecida e valorizada internacionalmente, sendo Portugal reconhecido como melhor destino europeu, na edição de 2020 da World Travel Awards.

Foi o primeiro país europeu distinguido, no contexto da pandemia, com o selo Safe Travelsdo World Travel & Tourism Council, após ter sido pioneiro na atribuição do selo Clean & Safe a diversas entidades do setor.

Em 2019, os clientes não residentes representaram cerca de 70% do número de dormidas. Após um ano de recordes, 2020 já é um ano perdido. Prova disso são os dados publicados pelo INE em agosto e que, em comparação com o período homólogo, apontam para (i) uma queda do número de hóspedes (c. 60% quer nacional quer internacional) e (ii) proveitos totais de 1.026 milhões de euros (menos c. 65,4%).

Sendo um dos mais afetados, o setor também tem sido um dos mais visados pelos apoios do Governo. Após as medidas iniciais de lay-off e concessão de moratórias, anunciam-se outras, novas ou apenas o prolongamento das existentes. De destacar a nova edição da iniciativa Call Tourism, a criação do IVAucher, a isenção de TSU e o desagravamento das tributações autónomas para as micro, pequenas e médias empresas.

Foi ainda anunciado que os operadores económicos do setor irão poder conceder descontos beneficiando de uma comparticipação pública do valor desse desconto, bem como a atribuição de 750 milhões de euros através de subsídios a fundo perdido, com foco no setor do turismo.

As medidas pretendem ajudar o setor nestes tempos difíceis, mas parece certo que a atividade terá de se reinventar, esperando-se alterações estruturais significativas. Será mais digital e mais qualificado (o número de formações online aumentou significativamente). O check-in online e outros novos procedimentos, tornaram a oferta mais enquadrada na conjuntura atual, como seja o processo de reservas mais flexível, entre outras medidas que foram testadas durante estes meses e muitas irão manter-se. A recuperação será lenta e progressiva, não se prevendo que ocorra antes de 2022 ou 2023.

No contexto de fusões e aquisições (M&A) a afetar este setor deverão registar-se movimentos. Segundo o TTR – Transactional Track Record, em 2019 o setor do turismo estava no TOP5 de setores com mais transações em Portugal (22 vs. 19 em 2018), com um valor de cerca de 537 milhões de euros (c. 315  milhões de euros em 2018).

No contexto pré-pandemia, o setor era dos mais apetecíveis quer em termos do desenvolvimento de projetos greenfield, quer na compra/venda de projetos em desenvolvimento ou maduros. Este foi um dos setores que na última crise teve muitos ativos com processos de insolvência e que transitaram para fundos de reestruturação, alguns deles iniciaram processos de venda em 2019.

2020 tem sido um ano atípico por natureza e muitas transações em curso foram adiadas. Segundo alguns investidores financeiros do setor, não é esperada uma significativa perda de valor do negócio, no entanto, de acordo com uma análise da PwC, a nível global, no primeiro semestre de 2020, as transações no setor em valor caíram cerca de 60% e em volume cerca de 25%.

As crises potenciam oportunidades e as oportunidades criam um ambiente favorável às operações de M&A. A eventual necessidade de consolidação no setor, otimização de custos e criação de sinergias e escala operacional, bem como a aceleração da transformação digital da atividade, poderá não só melhorar a experiência dos clientes como impulsionar a reestruturação do setor.