As telecomunicações como motor da digitalização e do futuro
A emergência de saúde pública relacionada com a doença Covid-19, qualificada pela Organização Mundial de Saúde como pandemia internacional no dia 11 de março de 2020, tornou isso ainda mais claro. Quando um dia olharmos para a cronologia dos eventos associados à pandemia de Covid-19 em Portugal, o dia 18 de março ficará marcado com o dia em que tudo mudou. Foi nesse dia que foi decretado o estado de emergência e, subsequentemente, o Governo decretou o que ficou conhecido como “confinamento”. Os estudantes ficaram em casa e começaram a ligar-se remotamente à escola, as empresas promoveram de forma massificada e acelerada o teletrabalho.
A sociedade foi ‘remotizada’ de um dia para o outro, não por necessidades de negócio, mas por imperativos de sobrevivência da própria sociedade. E para esta ‘remotização’ foi crucial a disponibilidade, resiliência e qualidade das redes móveis e fixas de telecomunicações de Portugal. Foram estas redes que permitiram estarmos todos em casa ligados à família, à escola, à empresa. Centenas de profissionais do setor das telecomunicações trabalharam sem cessar para garantir que a sociedade civil, empresarial e o Estado continuavam ligados entre si.
É difícil, ao dia de hoje, perceber como será a vida depois da pandemia, ou pelo menos depois de percebermos como teremos de lidar com o vírus de forma a nos mantermos saudáveis e seguros. Qual será o “novo normal” é a pergunta mais vezes feita e sobre a qual subsistem mais dúvidas do que pontos assentes. Uma certeza temos, porém: este período de pandemia deu-nos tempo e “objecto” para pensar, refletir e perceber que nada será como antes e que lições foram, entretanto, aprendidas.
Começa a ficar claro que o período que se tem vivido no contexto da pandemia Covid-19 veio antecipar um certo tipo de hábitos e comportamentos comprovadamente mais “digitais”, traduzindo-se numa aceleração para uma sociedade cada vez mais digital.
É inquestionável que as empresas, pequenas, médias ou grandes, terão que dar um salto tecnológico, assumindo como crucial a digitalização dos seus processos produtivos, logísticos e outros. Desta forma, por um lado, irão beneficiar definitivamente das vantagens das eficiências que daí resultam e, por outro, irão contribuir para a evolução da experiência digital dos seus clientes.
Esta aceleração digital vem também criar grandes oportunidades ao Estado, que perante atrasos sucessivos na completa digitalização do aparelho estatal vê agora uma oportunidade derradeira de saltar em frente e modernizar-se digitalmente, tornando-se mais eficiente e transparente. As áreas da Saúde, da Educação, da Mobilidade, da Justiça, apenas para frisar algumas, afiguram-se com um enorme potencial para a reinvenção de Portugal.
A pandemia tornou claro que as Telecomunicações são hoje, e serão no futuro, o motor da economia digital, sendo, por isso, importante uma aposta estratégica nas infraestruturas de comunicações futuras do país.
As telecomunicações são um dos pilares fundamentais das sociedades digitais e só com conetividade permanente, redes seguras e resilientes, com capacidade de transporte de avultados volumes de tráfego é que se consegue manter o país a funcionar remotamente, ligando escolas a estudantes, médicos a doentes, empresas a clientes, cidadãos ao Estado.
Também é claro que o crescimento deste setor da economia é suportado em investimento privado sendo, por isso, essencial e urgente um enquadramento político/regulatório claro, estável, previsível e incentivador a esse mesmo investimento nas redes do futuro.
É, assim, fundamental que o processo de lançamento do 5G, e em particular o processo de atribuição de espectro, esteja alinhado com os objetivos estratégicos nacionais, privilegie os investimentos que possam impulsionar verdadeiramente a economia nacional de uma forma sustentada e, ainda, que tenha em consideração a atual conjuntura nacional e europeia.
A tecnologia 5G suporta as redes móveis do futuro possuindo três características chave: a elevada capacidade de transporte de dados que se prevê que seja 100 vezes mais rápida do que a rede atual de 4G; a possibilidade de interligar milhões de dispositivos dando vida ao conceito da “Internet das Coisas” onde tudo estará ligado a tudo; e, finalmente, conseguirá assegurar latências incrivelmente baixas por forma a poder suportar serviços críticos, como cirurgias remotas.
Com estas três características combinadas, iremos ter as “ferramentas” para conseguirmos fazer a mais profunda revolução tecnológica dos últimos 50 anos.
Percebe-se assim a imperiosa necessidade de não falharmos como país neste processo do 5G. Tem de haver espectro suficiente para dar vida à promessa de 5G – idealmente 100MHz na faixa dos 3.6GHz e 10MHz na faixa dos 700MHz de forma a expandir a mancha de cobertura de 5G e podermos ligar os milhões de dispositivos. Qualquer constrangimento a estas duas condições anteriores, tornará o 5G “coxo” em Portugal.
A par disso, é necessário garantir que a digitalização da sociedade não acontece apenas nas cidades e no litoral, mas que se espalha pelo interior do país, pelo país rural e, naturalmente, pelas regiões autónomas dos Açores e da Madeira, condição necessária para a coesão do território, a qual deve ser vista como um imperativo nacional. Para que tal aconteça é crucial que operadores e Governo trabalhem lado a lado, criando as corretas condições e incentivos para que este desígnio seja alcançado.
A digitalização da Sociedade tem o grande mérito de tornar o país mais “plano”, no sentido de reduzir drasticamente a dependência do local físico/geográfico onde as pessoas se encontram e estamos perante um momento único para o fazer.
Mais uma vez, esta pandemia veio provar que tal é possível e, até, desejável. Permitiria, por exemplo, fixar a população fora dos centros urbanos, reduzindo a pressão demográficas nas cidades e dando uma nova vida ao interior. Para isso acontecer, é essencial garantir um compromisso nacional que permita que os mais vulneráveis não sejam deixados para trás, que todos possam contribuir igualmente para o desenvolvimento do país e que um futuro digital melhor seja acessível a toda a sociedade. Ou seja, apoiar ativamente a inclusão digital.
Esta crise veio evidenciar ainda mais a importância de Portugal estar dotado de redes de comunicações de qualidade e elevada capacidade, detidas por operadores sólidos e robustos capazes de atuar como agentes promotores da retoma económica por via do suporte à digitalização, massificando-se o teletrabalho, o ensino digital, a telemedicina, o e-commerce, promovendo-se a adoção e a utilização acelerada de ferramentas de videoconferência e de mecanismos de partilha de informação pelas diferentes camadas da população, assentes numa transformação digital absolutamente transversal a toda a sociedade portuguesa. E este, sim, acreditamos que passará a ser o “novo normal”.
Desta forma, reinventamos Portugal.