“O projeto de produção de hidrogénio verde em Sines foi pensado com o objetivo de poder ser um dos fornecedores de energia ao hub de hidrogénio de Roterdão”, afirmou o CEO da EDP Inovação, António Vidigal, na apresentação “Green Hydrogen: The next revolution in the energy sector” efetuada esta quinta-feira na área de Masterclasses da Web Summit 2020.
Numa apresentação sintética, António Vidigal explicou as especificidades do hidrogénio, enquanto uma das alternativas energéticas mais mediáticas da atualidade. “O hidrogénio é um elemento muito especial e uma ferramenta excelente para a fase de transição energética que vamos efetuar de 2030 a 2050, sendo o primeiro elemento da tabela periódica e um dos átomos mais comuns do universo, apesar de não existir isolado na natureza, além de integrar a generalidade das moléculas que compõem os combustíveis fósseis e de, quando aquecido a alta temperatura apenas liberta calor e água”, referiu o CEO.
No processo de transição energética, António Vidigal referiu que o hidrogénio não é um concorrente do sistema de eletrificação, mas “um elemento complementar”, sendo particularmente relevante para o futuro do sector dos transportes, em especial para o sector da aviação e para o transporte marítimo.
O CEO da EDP Inovação explicou que há três tipos de hidrogénio, o cinzento (Grey Hydrogen), produzido pelas refinarias no processo de refinação dos combustíveis fósseis e que é o mais frequente (99% do hidrogénio produzido a nível mundial tem esta proveniência), o azul (Bleu Hydrogen) que também é produzido com combustíveis fósseis (mas que só representa cerca de 1% do hidrogénio produzido a nível mundial) e o hidrogénio verde (Green Hydrogen) que é produzido a partir da água, através da energia elétrica, num processo de eletrólise.
Em relação ao hidrogénio verde, António Vidigal referiu que atualmente há dois tipos de eletrolisadores utilizados no processo eletroquímico da separação do hidrogénio: o alcalino, que utiliza um separador poroso para separar fisicamente os gases de hidrogénio e de oxigénio; e o eletrolisador PEM que isola eletronicamente o ânodo e o cátodo ligados a um circuito elétrico que faz libertar o hidrogénio.
Para exemplificar o processo de produção de hidrogénio, António Vidigal explicou que ligando ao eletrolisador uma corrente elétrica de 55 kWh uma base com nove litros de água consegue produzir-se 1 kg de hidrogénio e 8 kg de oxigénio. Recorrendo ao exemplo prático de um automóvel elétrico com tecnologia de pilha de energia – o designado “fuel cell electric vehicle” (FCEV), que existe no mercado a preços muito elevados –, ligando uma carga elétrica de 302,5 kWh a um eletrolisador com capacidade para 49,5 litros de água, são produzidos 5,5 kg de hidrogénio que permitiriam circular 500 km com este veículo, libertando apenas valor de água.
O CEO da EDP Inovação recordou que o hidrogénio verde pode ser produzido com eletricidade proveniente de fontes renováveis, tendo a vantagem de ter uma densidade energética muito elevada (de 33,6 kWh por kg), muito superior ao diesel (que é de 13 kWh por kg) ou ao lítio (que se fica pelos 0,2 kWh por kg) e a desvantagem de ter uma massa muito baixa a pressões atmosféricas normais, o que faz com que só possa ser armazenado a alta compressão (a 350 atmosferas 1 kg de hidrogénio ocupa 32 litros, enquanto comprimido a 700 atmosferas 1 kg de hidrogénio equivale ao espaço ocupado por 16 litros).
No entanto, António Vidigal explica que o transporte de hidrogénio pode ser feito preferencialmente no estado líquido. A sua liquefação é feita a temperaturas muito negativas, da ordem dos -253º graus Celsius, mas o processo de liquefação tem a desvantagem de exigir muita energia, pois consome mais de 30% do conteúdo energético do hidrogénio e este processo é muito dispendioso. “Mas há outras formas de transportar hidrogénio, como a amónia ou o metano”, refere ainda António Vidigal.
No estado atual de desenvolvimento destas tecnologias, segundo António Vidigal, “é mais fácil recarregar as baterias de um Tesla, do que atestar um depósito de hidrogénio de um veículo elétrico” que possua pilhas de combustível”.
Para o abastecimento de hidrogénio aos mercados, começam a surgir hubs de energia que concorrem a este objetivo, designadamente na Austrália e no Japão, e na Europa em Roterdão, transportado por via marítima. Relativamente ao desenvolvimento tecnológico dos processos de produção de hidrogénio, António Vidigal refere que é expectável que até 2030 o custo de um eletrolisador baixe cerca de 50% (no respetivo Capex) e que o custo das fontes de energia utilizadas para produzir o hidrogénio diminua entre 10% e 20%.
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