Ficámos esta semana a saber oficialmente algo que já há muito tempo era do nosso conhecimento. Marcelo Rebelo de Sousa vai disputar as eleições presidenciais em janeiro, sendo praticamente garantido que irá, logo à primeira volta, ser reeleito Presidente da República para os próximos cinco anos.
Justificando a sua recandidatura com o facto de que “não vai sair a meio de uma caminhada penosa”, nem “fugir às suas responsabilidades”, não sobrepondo o “comodismo pessoal ou familiar de hoje” à “impopularidade de amanhã”, Marcelo revelou publicamente um segredo sempre mal guardado.
Desde a primeira hora, era sabido que, fossem quais fossem as circunstâncias, Marcelo Rebelo de Sousa apresentar-se-ia à corrida a um segundo mandato, mesmo que tenha defendido, noutros tempos e noutras condições, que era favorável a uma limitação do número de mandatos, algo, aliás, que o levou a dar a mão ao Governo na substituição da Procuradora-Geral da República Joana Marques Vidal por Lucília Gago, e do Presidente do Tribunal de Contas Vítor Caldeira por José Tavares.
Certo que a Constituição da República Portuguesa afirma expressamente que o Presidente da República pode exercer dois mandatos consecutivos, algo que não faz para o Procurador-Geral da República, nem para o Presidente do Tribunal de Contas, mas só uma leitura muito habilidosa dos artigos 214 e 220 da Constituição permite extrair a conclusão de que os mandatos destes são únicos, não podendo ser renovados.
Marcelo, que sempre se pronunciou contrário à perpetuação de pessoas nos cargos, razão pela qual pactuou com o “atirar pela borda fora” de Joana Marques Vidal e Vítor Caldeira, não obstante o bom trabalho por estes produzido, decidiu, agora, como já se sabia que faria, que este princípio, que tão afanosamente defendeu para outras, não lhe é aplicável, podendo sempre escudar-se no texto fundamental.
Marcelo irá ser reeleito. Como no passado foram todos os seus antecessores, de Ramalho Eanes a Mário Soares, passando por Jorge Sampaio e Cavaco Silva. Será reeleito porque a reeleição é sempre quase certa, porque os seus concorrentes estão longe de se apresentar como figuras de primeira linha no panorama político português e porque colhe os favores da esmagadora maioria dos concidadãos, que acham graça a um Presidente popular, às vezes a roçar o populista, capaz tirar selfies com todos os que se apresentam para posar consigo para uma foto, de tomar um copo no meio dos populares numa taberna tipicamente portuguesa, de ser nadador-salvador nas horas vagas, de cortar o cabelo num barbeiro à beira da estrada, discutindo o preço do corte, de tomar a vacina para a gripe em tronco nu com todo o país a assistir, de ser o Tio Celito adorado pela população em Angola ou o de exibir os seus dotes de dançarino em Moçambique.
Marcelo é igual a si próprio. Muitos criticam-no, afirmando que teatraliza a sua atuação na ânsia de ser ainda mais popular, de fingir que se mistura com o povo. Só quem não o conhece pode acreditar que assim é. Marcelo é aquilo que mostra ser. Com qualidades e defeitos, gosta de se “misturar” com as pessoas, de ser popular, de dar abraços e beijos, de ser um one man show.
Foi feito para ser Presidente. Goste-se ou não do estilo, o certo é que, num país onde o Presidente tem a importância que tem, Marcelo vai ao encontro do que a maioria do povo quer de um seu representante. Alguém que os mime, que lhes transmita a sensação de lhes dar importância, que os anime, que lhes dê afeto, que os faça sentir que é um dos deles. Para o bem e para o mal, vêm aí mais cinco anos de Marcelo.