Se alguma coisa esta pandemia revelou foi a necessidade urgente de discutirmos e reavaliarmos a organização do nosso modelo de trabalho, sendo incontornável o debate sobre como, e em que condições, funcionará a partir de agora o teletrabalho. Algo que durante anos não passou de um chavão da linguagem empresarial mas que, com a Covid-19, se tornou uma realidade imposta que veio para ficar e terá certamente um progressivo impacto na tessitura das relações laborais.
Um artigo recente da revista ‘Fast Company’, da autoria de Esther Perel, traz um estimulante contributo para este tema ao realçar que as pessoas já não trabalham apenas para pôr comida na mesa.
“Para além de financiarem necessidades básicas, trabalham com uma visão de autorrealização, propósito e crescimento. Esperam que os seus empregos promovam a identidade, significado e pertença – necessidades existentes que costumavam ser satisfeitas no domínio das estruturas religiosas e tradicionais. É precisamente por isso que muitas pessoas que perderam os seus empregos ao longo do último ano não só o sentiram como uma perda de rendimento e segurança, mas também como uma perda de si próprias”.
Dito isso, é indispensável obviamente discutir a componente material associada às despesas e ao rendimento que estão subjacentes ao tema do trabalho; a comparticipação de parte a parte nas faturas da energia, do equipamento informático e consumíveis, a continuidade ou não do subsídio de refeição são apenas alguns dos itens a definir. Mas, subjacente a essa negociação, é muito importante termos em conta que falarmos do futuro do trabalho passa por uma redefinição do próprio modelo das organizações e da sua liderança.
Em Portugal e no que respeita ao setor público, um relatório datado do início de abril e produzido pela DGAEP reconhece que, “com efeito, o incremento da utilização do teletrabalho na Administração Pública ficou a dever-se, até à data, mais a uma necessidade premente de se responder circunstancialmente à pandemia do que a uma vontade consciente de reconfiguração e diversificação dos modelos de organização”. E, se isto sucedeu na Administração Pública, parece surgir como evidência que a maior parte das empresas do setor privado também funcionaram por reação e carecem ainda de uma definição do seu processo organizacional futuro.
A Unilever, por exemplo, lançou a iniciativa U-Work, estabelecendo um novo contrato com os seus colaboradores assente em valores fixos e outros variáveis. E tem já um ‘Vice-presidente para o Futuro do Trabalho’, Patrick Hull, que recentemente declarou que “A U-Work está a fazer exatamente o que queríamos. É apenas surpreendente que ainda seja algo tão raro”.
Como a Unilever entendeu bem, o debate atual centra-se no futuro do trabalho a partir de casa e na combinação correta de políticas e medidas laborais, medindo previamente o seu impacto nos diferentes grupos de colaboradores. Flexibilidade será a palavra de ordem desse futuro. E a conciliação o seu pressuposto.
Boa iniciativa a da CMVM, ao promover um debate em torno da “Literacia sobre mercados de capitais em Portugal: diagnósticos e desafios”. Como salientou Maria Teixeira Alves neste jornal: “Só 28% da população portuguesa é investidora no mercado de capitais”. Um número que uma aposta reforçada na literacia financeira ajudará a fazer subir.
O Canal Direto é o canal de comunicação aberto que mantenho com todos os leitores.