2017 não foi apenas o ano da recuperação económica do país, depois de uma complexa crise económico-financeira e de um duro processo de ajustamento. Foi também o ano em que se criaram as bases para um crescimento económico mais sustentável, porquanto assente no equilíbrio das finanças públicas, na iniciativa privada, no investimento produtivo, na inovação e nas exportações.
Ao longo de 2017, não faltaram notícias positivas para Portugal. Na frente externa, há a sublinhar a saída do Procedimento por Défice Excessivo, a subida do rating da dívida acima do nível “lixo” por duas agências de notação financeira (primeiro, a Standard & Poor’s e, mais recentemente, a Fitch), a eleição de Mário Centeno para a presidência do Eurogrupo, a contínua subida das exportações, o saldo positivo da balança corrente e de capital, a emissão de dívida a dez anos a uma taxa de juro inferior a 2% e os pagamentos antecipados ao FMI.
Na frente interna, merecem destaque a recuperação do investimento, a descida do desemprego para níveis pré-troika, a subida do emprego, a reorientação de recursos para os setores de bens transacionáveis, uma boa taxa de execução dos incentivos do Portugal 2020, a esperada redução do défice para 1,3% (o nível mais baixo de sempre em democracia), o previsível desagravamento da dívida para 119% do PIB e um crescimento económico perto dos 3% (o maior deste século).
Se descermos à economia real, verificamos que, em 2017, vários setores viveram um momento histórico em termos de competitividade internacional e capacidade exportadora, como é caso dos têxteis, do calçado, do agroalimentar, do mobiliário, da metalomecânica ou do turismo. Por outro lado, assistimos à emergência de projetos de empreendedorismo inovadores e de grande potencial, ao mesmo tempo que algumas das nossas maiores startups de base tecnológica fizeram levantamentos importantes em rondas de financiamento internacionais.
Um dos grandes factos de 2017 foi, aliás, a maturidade revelada pelo nosso ecossistema empreendedor, que se aproximou em qualidade e em dinamismo dos seus congéneres europeus. O ecossistema português apresenta hoje massa crítica (empreendedores, inovadores, mentores e investidores), startups com potencial, tecnologias inovadoras, institutos de I&D de excelência e modernos centros de incubação/aceleração. Falta-lhe, contudo, mais soluções para escalar startups de crescimento acelerado, o que implica maior capacidade de captação de talento, conhecimento e capital.
Para 2018, é esperada a continuação de uma conjuntura económica favorável. De acordo com as últimas previsões da OCDE, Portugal deve manter um crescimento económico superior a 2% até 2019. E o bom desempenho da nossa economia vai ser acompanhado pela consolidação das contas públicas, devendo o défice orçamental e a dívida pública acentuar a sua trajetória descendente.
Ora, é justamente em conjunturas favoráveis que se devem atacar os problemas estruturais da economia. Importa, pois, aproveitar este ciclo de crescimento para procurar eliminar ou minorar reconhecidos obstáculos à atividade empresarial, como o acesso a financiamento, o nível de endividamento das empresas, a burocracia, a lentidão da justiça e a elevada fiscalidade. São fatores que penalizam as empresas mas que Portugal, considerando a evolução económica e a consolidação orçamental, está em condições de corrigir, ou pelo menos mitigar, no futuro próximo.
Acredito que os próximos anos serão positivos para a economia portuguesa. Quer as PME, quer as startups têm razões para estar otimistas, considerando a subida da procura externa, a maior disponibilidade de capital para investir, o crescente valor reputacional do país e o desenvolvimento do ecossistema empreendedor. Estão de facto reunidas condições para uma dinâmica de crescimento das empresas nacionais, com efeitos na competitividade e na internacionalização da nossa economia.