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E se os bancos centrais alterassem o target de inflação para 4%?

A realidade é que esta discussão já começou há mais de uma década e só agora vimos algumas mudanças nas frameworks de diversos bancos centrais. A Fed, por exemplo, concluiu recentemente a sua primeira revisão do quadro que tinha vindo a utilizar desde 2012 para conduzir a sua política monetária. A alteração do target de inflação para 2% em média, abre espaço a que a inflação seja superior ao objetivo pelo tempo que for necessário até atingir a planeada média – isto aproxima a recente política daquilo que tem vindo a ser cada vez mais predominante a nível académico – um target de inflação mais elevado.
28 Outubro 2021, 07h42

Um importante acontecimento da década de 90 na gestão da política monetária por parte de diversos bancos centrais, foi o facto de a maior parte deles terem conseguido manter os preços das suas economias relativamente baixos. Com esse sucesso veio, no entanto, um outro desafio que os decisores políticos e os economistas não anteciparam – a taxa de juro real de curto-prazo (que é aquela escolhida por banqueiros centrais para manter a economia a um nível de pleno emprego e os preços perto do seu target previamente definido) tem caído acentuadamente, deixando os bancos com poucas medidas para combater recessões.

Como consequência disso, ao longo da última década tem-se observado um número crescente de economistas a aconselhar bancos centrais a aumentar o seu target de inflação. Olivier Blanchard (2010) abordou a ideia de que os bancos centrais deveriam apontar para uma taxa de inflação de 4% durante momentos em que a economia se encontra perto do seu potencial com o objetivo de deixar mais espaço para a redução nominal das taxas em tempos menos bons. Ball (2013) também defendeu um objetivo de inflação na mesma linha dos 4% propostos por Blanchard. Adam S. Posen (2019) argumentou que o objetivo de 2% de inflação adotado por muitos bancos centrais já tinham “sobrevivido à sua utilidade”, propondo até que os grandes bancos centrais devessem aumentar os seus objetivos de forma coordenada.

Os potenciais benefícios dessa mudança apontam para uma taxa de inflação de longo prazo mais próxima do seu objetivo bem como para um mercado de trabalho mais próximo do seu nível de pleno emprego.

Recentemente, David Reifschneider e David Wilcox (2021) destacam também que com um target mais elevado a economia poderia desfrutar de uma temporária, mas subida substancial do emprego e da produção. Eles referem que se o alvo fosse aumentado para 3%, a taxa de desemprego poderia subir até 3/4 (três quartos) do seu nível potencial durante os primeiros 15 anos a seguir ao aumento do target ser anunciado.

Riscos associados a uma inflação mais elevada não seriam um problema

Economistas já há muito que apontam para os potenciais riscos de uma inflação elevada, indicando diversos fatores responsáveis por eventuais problemas: as distorções fiscais podem fazer com que empresas alterem os preços mais frequentemente; a diminuição dos salários reais que tendem sempre a ser menos elásticos do que a inflação; potencial redução das poupanças dos agentes económicos e potencialmente outras perdas decorrentes da ilusão de um potencial aumento nominal dos salários que não se traduzem num aumento de riqueza. No entanto, existe um consenso de que o aumento destes riscos eventualmente associados a um aumento da inflação média de 2 para 3 ou 4 por cento é visto como sendo bastante reduzido.

A realidade é que esta discussão já começou há mais de uma década e só agora vimos algumas mudanças nas frameworks de diversos bancos centrais nessa direção. A Fed, por exemplo, concluiu recentemente a sua primeira revisão do quadro que tinha vindo a utilizar desde 2012 para conduzir a sua política monetária. A alteração do target de inflação para 2% em média, abre espaço a que a inflação seja superior ao objetivo pelo tempo que for necessário até atingir a planeada média – isto aproxima a recente política daquilo que tem vindo a ser cada vez mais predominante a nível académico – um target de inflação mais elevado.

A Fed não irá revisitar tão cedo o seu quadro e planeamento estratégico onde o mesmo se espera que possa acontecer em 2023, mas isso não deve ser impedimento a que essa discussão possa surgir agora mais cedo do que isso.

 

 

 

 

 

Frederico Aragão Morais
Senior Market Analyst na Qaestum Capital

 

 

Este conteúdo patrocinado foi produzido em colaboração com a Qaestum Capital.

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