Se o futuro do trabalho for já agora… ainda me atrevo a fazer previsões, mas não mais do que isso. Todavia, há muito que existe aquilo que agora ganhou outra dimensão. O teletrabalho por exemplo, era uma realidade existente, embora apenas para menos de 2-3% dos trabalhadores (muito menos em muitos casos), não simplesmente em Portugal, mas por todo o mundo.
Hoje, em muitos países, Portugal incluído, passa os 20% (segundo dados do CES da Universidade Coimbra, relativos ao início deste ano). Em 2014, a promoção de locais de trabalho saudáveis e nomeadamente da saúde mental nos locais de trabalho e a prevenção dos riscos psicossociais era algo visto por muitos como uma ideia nobre, bem-intencionada, mas distante das reais necessidades do mundo do trabalho.
Hoje, do conhecimento de milhares de milhões de euros perdidos em cada ano, passamos para a visibilidade à superfície daquele que sempre foi um enorme iceberg a flutuar pelas organizações. Alguns dirão que tudo isto era previsível, poucos terão acertado com o momento em que o teletrabalho ganhava esta expressão ou com a valorização do bem-estar nas organizações e o reconhecimento que ele é essencial para a sustentabilidade dos negócios. Não o fazer é perder pessoas, dinheiro e oportunidades.
No momento em que se discute o Livro verde para o futuro do trabalho e que transversalmente os parceiros sociais referem a saúde mental, o bem-estar ou os riscos psicossociais como dimensões importantes para o trabalho, será bom que as estratégias para o futuro do trabalho não se esqueçam de lhe dar atenção. Ou isso, ou estarão a falar do futuro do trabalho pelas lentes do passado: tecnologia, capital, qualificações… é curto.
Se o futuro do trabalho for já agora… como a “Forbes” apontava em Janeiro, entre 10 tendências para 2021 estavam “apenas”: ambientes seguros, flexibilidade de horários, cultura para uma organização virtual com mais vinculação dos funcionários e promoção da saúde mental. Também no início do corrente ano a “Gartner”, nas suas nove tendências para 2021 incluía a necessidade das empresas apoiarem os seus funcionários na sua vida, como um todo e não apenas no seu trabalho; nomeadamente promovendo a saúde mental e a flexibilidade do horário como condição por parte dos trabalhadores.
Outro dado interessante de agora é sobre as novas gerações, mais especificamente sobre os millennial. Embora necessitemos de mais investigação, a Gallup aponta para 3 vezes mais mudanças de emprego desta geração comparativamente aos não millennial, com 21% a afirmarem terem mudado de emprego nos EUA, no ano passado, e esta rotação terá custado à economia americana 30 mil milhões de dólares.
Mas falando ainda mais de futuro próximo, esta mesma geração, não se vê no mesmo emprego no horizonte de um ano, numa percentagem muito mais elevada que os não millennial. As empresas estão cada vez mais preocupadas com o impacto que a saúde mental e o bem-estar, ou falta dele, têm na sua produtividade e consequentemente competitividade.
A Administração Pública está a dar os primeiros sinais concretos de preocupação e acção sobre esta matéria, com o início de uma expressiva e ampla avaliação dos riscos psicossociais entre os seus trabalhadores. As pessoas, estão cada vez mais a procurar saber como cuidar da sua saúde mental. E se apenas 4% dos portugueses poderão sofrer de perturbações graves de saúde mental (o que são já 400.000 portugueses), muitos mais são aqueles que não querem lá chegar, querem prevenir e querem-se cuidar.
Para muitos começará no local de trabalho e nas práticas de gestão, mais ajustadas ao comportamento e aos processos mentais das pessoas. Assim sendo, se o futuro do trabalho é já agora, passa inevitavelmente por uma reflexão sobre as necessidades do trabalho nesta dimensão e por compromissos de todos os parceiros sociais para não morrermos… do trabalho e antes disso não definharmos penosamente devido a ele.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.