Há quem defenda que a ação das comissões de trabalhadores e dos sindicatos ligados à CGTP tem sido prejudicial ao país, por eventualmente colocar em causa o futuro dos grandes investimentos estrangeiros em Portugal e por obedecer a estratégias partidárias que, em bom rigor, são alheias ou até contrárias aos interesses dos trabalhadores das empresas em questão.
Estas críticas têm razão de ser. Em primeiro lugar, porque Portugal tem de se afirmar como um país seguro e competitivo, capaz de atrair os investimentos de qualidade que são hoje disputados por países de todos os continentes. Para quê investir em Portugal quando se pode abrir uma fábrica na República Checa, com custos inferiores e o mesmo nível de qualidade?
Por outro lado, é visível que a CGTP funciona como um braço armado do Partido Comunista e que os protestos que têm ocorrido em várias grandes empresas fazem parte de uma estratégia maior, que deve ser lida à luz do atual momento político.
Dito isto, temos assistido a alguns exageros nas críticas aos representantes dos trabalhadores, nomeadamente no caso da Autoeuropa. Por exemplo, quando se repete que Portugal é o “único país da Europa” onde os sindicatos estão “partidarizados”. Ou quando se conclui, como verdade profética, que a Autoeuropa vai ser deslocalizada devido ao braço-de-ferro em curso, ignorando que, no longo prazo, a principal ameaça à continuidade da fábrica não são as exigências dos trabalhadores, mas a revolução tecnológica em curso no setor automóvel, com a inteligência artificial.
Comecemos pela questão da “partidarização” dos sindicatos. Portugal é um caso raro sim, mas não pelo facto de os sindicatos terem ligações aos partidos políticos. A raridade vem antes do facto de sermos um dos poucos países europeus onde ainda existe um partido comunista ortodoxo que mantém relevância eleitoral, influência no Governo e poder no mundo sindical.
No resto da Europa já não existem partidos leninistas verdadeiramente relevantes, mas não faltam exemplos de sindicatos com ligações à política. Veja-se os exemplos dos partidos trabalhistas britânico e sueco, fundados e financiados por sindicatos.
Na Alemanha, pátria da Volkswagen, os principais sindicatos estão representados num órgão interno do SPD, o partido social-democrata. A Alemanha é, de resto, o país europeu onde os sindicatos têm um papel mais relevante, ocupando lugares nas administrações das empresas, numa lógica de cooperação que constitui uma das razões para o sucesso da economia germânica.
Serão os sindicatos alemães mais razoáveis que os nossos?
Sim, porque na Alemanha existe uma cultura de compromisso em prol de objetivos comuns. Mas também na Alemanha a Volkswagen tem problemas com os sindicatos. Ainda esta semana foi anunciado que a empresa chegou a acordo com os sindicatos para aumentar em 4,3% os salários de 120 mil funcionários, pondo fim a um braço de ferro que se arrastava desde 2004. Um acordo praticamente idêntico ao que foi feito há dias na Autoeuropa, com exceção do aumento salarial, que aqui fica nos 3,2%.
Por sua vez, na República Checa, que disputa a Portugal a atenção da Volkswagen, no passado dia 15 os sindicatos rejeitaram os aumentos propostos pelo grupo e ameaçaram com uma greve.
Haja, por isso, o necessário bom senso em todas as partes e também menos alarmismo em algumas análises.