Há uma semana, o 37º Congresso do PSD escolheu a sua moção de estratégia e os seus órgãos nacionais depois de Rui Rio ter sido eleito líder do partido nas diretas. Já muito foi dito e escrito sobre a falta de debate político do congresso e sobre a dança das cadeira entre os notáveis do partido, por isso proponho que ultrapassemos a espuma dos dias e tentemos perceber o que pensa Rui Rio sobre trabalho e o mundo laboral.
O primeiro passo é ler a moção estratégica proposta pelo líder do PSD e aprovada pelo congresso da passada semana.
Da análise desse documento estratégico do PSD para os próximos dois anos, a primeira coisa que salta à vista são as omissões: em 56 páginas a palavra trabalho tem apenas 10 menções e emprego 12; já desemprego tem apenas uma menção e os termos precariedade, trabalhadores independentes ou recibos verdes simplesmente não são usados. Pelo contrário, a palavra futuro é usada 14 vezes e confiança 21 vezes.
A moção dedica algum espaço a fazer diagnóstico sobre a questão do trabalho, criticando um modelo de baixos salários e baixas qualificações, dizendo que é necessário criar emprego, apontando as dificuldades na transição entre a escola e o mercado de trabalho, enunciando que é contra a progressão na carreira com base na antiguidade na empresa. No entanto, o texto falha na proposta, o caminho não é explicado e apenas se escreve que é necessário apostar na educação e no corte dos impostos para a classe média. Assim, os objetivos em matéria de trabalho não são claros e tão-pouco é o caminho para os alcançar.
No seu discurso de encerramento, infelizmente, Rui Rio não esclareceu. Tendo sido claro que recusa o modelo económico baseado no consumo interno e que quer uma aposta nos bens transacionáveis, disse apenas que o rendimento em Portugal estava aquém da média europeia e mostrou descontentamento por este ter regredido nos últimos anos, mas, de novo, não apontou caminhos.
Rio não teve uma palavra sobre o crescimento do emprego, sobre a queda do desemprego, sobre a redução do aumento de impostos de Passos Coelho, sobre a redução sem precedentes das desigualdades ou sobre o caminho de valorização do salário mínimo. Marques Mendes à porta do congresso explicou porquê: as boas notícias na economia e no emprego são “um cenário muito adverso” para o PSD.
Mas Rio também escolheu não falar sobre estagnação salarial, desemprego de longa duração, desemprego jovem, a falta de qualificações de trabalhadores e de empregadores, precariedade, trabalhadores independentes, o problema da contratação coletiva ou as estratégias para o aumento da produtividade do trabalho. São os debates em curso, nos quais PS, Bloco de Esquerda e PCP têm participado e nos quais os parceiros sociais estão empenhados.
Daqui decorre que Rio não tem ou esconde o seu programa para o trabalho e para as relações laborais. É pena, porque a enorme maioria das pessoas em Portugal vive do seu trabalho e por isso este é um tema central na sua vida. Acresce que a democracia precisa de clareza de alternativas para que possamos escolher.
Ao que parece, em matéria de trabalho Rui Rio rima com vazio.