A Europa tem estado bem e recomenda-se. A economia cresce, os resultados das empresas aumentam, e o Banco Central Europeu começa a ter um discurso menos centrado nos riscos, mais centrado no futuro e concentrado na sua estratégia de saída de uma era de estímulos monetários.
Os receios com a integridade do euro foram progressivamente ultrapassados e isso tem sido visível nos mercados financeiros, onde os prémios de risco das dívidas soberanas têm vindo a estreitar entre si, enquanto os mercados acionistas vão premiando as melhores perspetivas relativamente à atividade económica para o resto do ano. Até agora, os fatores geopolíticos têm tido impacto limitado e têm-se mantido relativamente contidos. Ainda assim, os testes e desafios ao euro não desapareceram por completo, e março será um mês em que a incerteza pode vir ao de cima e trazer volatilidade aos mercados financeiros.
Deste logo a Itália. Os transalpinos vão a votos no dia 4 de março, e o resultado pode trazer um impasse governativo. A coligação de centro-direita liderada por Berlusconi e pelo Forza Itália está à frente nas sondagens, mas poderá não ter força suficiente para obter maioria nas duas câmaras do Senado, deixando um papel de charneira ao movimento populista e eurocético Cinco Estrelas, cuja agenda poderá forçar um afastamento de Itália da União Europeia. Os equilíbrios serão complexos de gerir e podem exigir uma grande coligação com o centro-esquerda para garantir a estabilidade governativa, mas que será sempre uma delicada estabilidade tendo em consideração as diferentes visões existentes sobre as reformas estruturais que são necessárias levar a cabo no próximo mandato.
Mais dramático contudo pode ser um eventual desfecho negativo das negociações na Alemanha entre democratas-cristãos (CDU) e social-democratas (SPD). Uma inesperada recusa por parte dos membros eleitos do SPD – a ala de eleitos mais jovens do SPD é mais radical, e torna a aprovação mais imprevisível – dos termos da nova grande coligação poderia ser encarada como um forte contratempo num processo sensível e de grande impacto na zona euro. Uma solução governativa alternativa teria prováveis impactos na forma como seria encarada a integração europeia, com sério potencial para desalinhar a maior economia europeia do discurso pró-euro, e alinhado com a França da era Macron.
Os riscos provenientes de Itália e da Alemanha testarão de novo um euro que parece imune aos riscos políticos. Enquanto que o impasse transalpino pode ter uma detonação menos imediata que os efeitos de uma recusa de novo mandato em grande coligação na Alemanha, ambos poderão trazer ao de cima antigos debates sobre a coesão da União Europeia, e, certamente, volatilidade aos mercados financeiros. Sobretudo se a narrativa nestes países se tornar subitamente menos apoiante do euro.
Até ao momento têm prevalecido sempre os fatores fundamentais, com o crescimento económico e a força do BCE a ditar a sua lei. Mas os investidores não deverão ignorar os riscos, tomando algumas cautelas nas suas carteiras, pois nos mercados pode acabar por prevalecer um ditado português, que diz que em março temos “manhãs de inverno e tardes de verão”.