A agenda política europeia tinha dois desafios importantes no princípio deste mês, passíveis de trazer maior volatilidade: i) a aprovação do novo acordo de grande coligação no seio dos membros do SPD alemão; ii) as eleições gerais em Itália. O resultado acabou por ser uma espécie de salada mista, com fatores positivos e outros que têm potencial para alimentar a incerteza nos mercados financeiros internacionais nos próximos tempos. Até agora, as melhorias na economia europeia têm prevalecido sobre os riscos políticos, uma retoma que também está patente num discurso menos “acomodativo” por parte do Banco Central Europeu (BCE). Este também parece ser o caso central. Contudo, existem sinais que convém não ignorar.
Na Alemanha, cerca de dois terços dos membros do Partido Social Democrata alemão (SPD) votaram a favor do novo acordo de coligação, colocando um ponto final num ciclo de incerteza política que persistia desde outubro do ano passado. Um falhanço no acordo de coligação (a GroKo) deixaria marcas visíveis no processo de maior integração europeia, forçando a um acordo com as forças mais populistas e eurocéticas, que, no final do dia, levaria a um desalinhamento da posição conjunta pró-euro de que a França e a Alemanha têm sido o polo aglutinador. Desta forma, a aprovação tem, acima de tudo, uma agenda pró-europeia, a somar à aposta numa maior proteção social a nível doméstico – fatores que, no curto prazo, ajudam a estabilizar as preocupações dos investidores em torno de uma fratura nos países chave do euro com vista a uma maior integração.
Já em Itália, o resultado das eleições gerais trouxe um cenário de incerteza no que diz respeito a uma solução governativa. Em primeiro lugar, é preciso que se consiga formar governo e, em segundo lugar, que seja um executivo que consiga governar. Não sendo impossível construir uma solução governativa, essa não será nunca uma solução que permita a manutenção de uma agenda de reformas estruturais. E, acima de tudo, o facto de existirem mais de 50% de votos expressos em partidos eurocéticos (a Liga e o Movimento 5 Estrelas), levanta dúvidas sobre o que poderá ser o futuro da Itália dentro do projeto de integração da União Europeia.
Um eventual referendo sobre a permanência do gigante transalpino na UE poderá ser um teste de nervos dos investidores, dadas as probabilidades que poderia ter de vencer o mandato de saída – um Uscitalia –, situação que teria contornos claramente mais dramáticos do que a saída do Reino Unido, uma vez que, ao contrário destes, Itália utiliza o euro como moeda. Um problema que teria visibilidade imediata em termos sistémicos na zona euro.
Se nos afastarmos do campo político e nos centrarmos na economia, apesar das leituras mais moderadas para o crescimento, a Europa tem estado bem. A economia cresce e o BCE começa a ter um discurso menos centrado nos riscos, mais centrado no futuro e concentrado na sua estratégia de saída de uma era de estímulos monetários. A verdade é que, os prémios de risco das dívidas soberanas são mais estreitos entre si. Até agora, os fatores geopolíticos não só têm tido um impacto limitado como se têm mantido relativamente contidos, mas é errado pensar que desapareceram. A volatilidade estará por aí, nos mercados financeiros, para nos lembrar ocasionalmente disso.