No último fim de semana o país assistiu ao congresso do CDS-PP, o partido democrata-cristão português, classicamente defensor do Estado útil e da proximidade entre eleitos e eleitores, partido que pela sua génese deveria dar prioridade à reforma do sistema político e que mais uma vez não deu. Mas a uma verdadeira reforma que veja de frente temas como a oligarquia, o nepotismo, o populismo, o clientelismo e a corrupção. Sem esta reforma continuaremos a estimular o abstencionismo nas urnas e a vincar a descrença nos processos democráticos.

Radicalizar a democracia nunca foi tão urgente e o CDS-PP é o partido em melhores condições para tomar a dianteira nesta matéria. Fomentar a participação política do cidadão comum facilitando-lhe condições de acesso à vida pública e estimular cada vez mais a intervenção de segmentos populacionais historicamente excluídos como as mulheres, afrodescendentes, pessoas com deficiência, jovens e idosos sem os impor por quotas, é a via mais consentânea com uma sociedade evoluída e participada.

Sem priorizar a democratização dos partidos, criar equidade nas disputas políticas e qualificar os processos eleitorais, qualquer reforma do sistema político não passará de uma reforma de perfumaria. Enquanto não se discutir seriamente o tema da exclusividade dos agentes políticos para que os mesmos destinem as suas horas de trabalho a uma única função e não se verifiquem incompatibilidades de interesses, enquanto os deputados forem eleitos pelos círculos das regiões de onde não são naturais ou residentes, enquanto não se limitarem temporalmente os mandatos dos políticos, enquanto não forem definidos sistemas de transparência na admissão dos funcionários públicos, enquanto existirem subvenções mensais vitalícias que privilegiam alguns injustificadamente, não haverá uma verdadeira democratização nas relações de poder.

A democracia é muito mais do que um regime político, é a forma como os cidadãos se organizam e relacionam. É essencial que a orientação de um partido democrata-cristão aponte para a construção de um sistema integrado de participação que inclua as políticas sociais e económicas. Assumir uma deriva populista cujo o único objetivo seja a captação de votos para ser poder, não é a via séria de fazer política e não se coaduna com os fundamentais da doutrina social da Igreja.

A defesa intransigente da credibilidade do Estado e dos seus agentes é a prioridade do momento e esse deve ser o desiderato de qualquer programa político. Talvez por essa razão valha a pena a alguns democratas-cristãos portugueses retomar linhas de força tão esquecidas como aquela que Konrad Adenauer repetiu à exaustão: “Todo o partido existe para o povo e não para si mesmo”.