Depois de ter surpreendido em setembro ao promover a notação soberana de Portugal para grau de investimento, a Standard & Poor’s (S&P) não deixou os analistas mal vistos, esta sexta-feira, e fez o esperado: manteve a availação e a perspetiva inalteradas, em BBB- e estável, respetivamente.
O relatório da avaliação merece, no entanto, um olhar detalhado, pois aponta para vários aspetos positivos e negativos que poderão afetar as próximas análises à economia nacional. Veja aqui algumas das principais considerações da S&P:
QUAIS OS ASPECTOS POSITIVOS?
Recuperação abrangente
Consumo privado, investimento, construção, exportações e imobiliário – a agência salientou que a retoma da economia portuguesa continuou e tem sido abrangente. Após ter registado uma expansão de 2,7% em 2017, a maior em quase duas décadas, o crescimento do PIB ser mais moderado este ano (2,3%), abrandando até 1,8% em 2021, segundo as previsões da S&P.
Vincou, no entanto, que “o desempenho económico deverá permanecer abrangente, com contribuições positivas de todos os setores”.
Melhorias no mercado laboral:
A agência de notação sublinhou que o mercado de trabalho continua a fortalecer, e sublinhou a expansão de 3,5% no emprego, a descida do desemprego para 9% em 2017, face ao pico de 17,5% em 2013, ficando mesmo abaixo dos níveis registados em França, Espanha e Itália. A previsão da S&P é que a taxa de desemprego continue a descer até 7% em 2021.
As tendências positivas devem-se dinâmicas no mercado, incluindo algumas das reformas implementadas pelo governo anterior, com a S&P a ver como improvável que o atual Executivo desmantele essa legislação, apesar de ter aumentado o salário mínimo e restaurado a semana de trabalho de 35 horas na função pública.
A agência explicou que acredita que os sucessivos aumentos no salário mínimo não terão enfraquecido a competitividade dos bens e serviços em termos de custos, e vincou que o custo do trabalho por hora permanece 54% abaixo da média da zona euro.
Desempenho das exportações:
O crescimento da exportações tem sido um dos principais contribuintes para a economia nos últimos anos, “com Portugal a deixar para trás todos os pares da região”, salientou a S&P. O desempenho das exportações de serviços até tem superado o dos bens, com a retoma da economia da zona euro a ajudar.
A agência antecipa que a tendência irá continuar nos próximos anos, na ausência de choques externos. A forte procura externa e os ganhos de quota deverão permitir mais que compensar eventuais aumentos no preço do petróleo e nas taxas de juro, explicou.
Menos défice, apesar de mais despesa:
A S&P vincou que as finanças públicas continuaram a trajetória de consolidação em 2017. Segundo a agência, o défice público terá caído para 1,4% no ano passado, face aos 2% de 2016, com a redução a beneficiar da expansão económica, a descida do custo de financiamento e os cortes no investimento público.
Se as condições favoráveis se prolongarem, o défice poderá ser reduzido para 1,1% este ano, apesar de aumentos da despesa como por exemplo o descongelamento da progressões nas carreiras na função pública, prevê a agência.
Banca mais tranquila:
A banca portuguesa está mais forte, diagnosticou a S&P. A agência explicou que o Governo tem apoiado a estabilização do setor de várias formas, incluindo a recapitalização da Caixa Geral de Depósitos, reformas legislativas sobre insolvências e reestruturações, decretos para alterar as regras de participações em bancos como o BPI e o BCP, e a extensão da maturidade do empréstimo do Governo ao Fundo de Resolução. A agência referiu ainda que o Lone Star comprometeu-se a reestruturar o negócio do Novo Banco após ter comprado a instituição.
QUAIS OS RISCOS NO HORIZONTE?
Menos produtivos:
A produtividade laboral em Portugal tem recuado desde 2013, algo que a S&P vê a pesar na potencial de crescimento da economia. A solução reside em melhorias na eficiência da administração pública, sistema jurídico e ambiente de negócios, explicou.
Ameaça externa:
Apesar de as perspetivas para as exportações portuguesas serem favoráveis há algumas nuvens no horizonte. A S&P frisou que o Brexit, um aumento do protecionismo na economia global ou uma apreciação do euro face às moedas dos principais parceiros comerciais constituem riscos ao desempenho da conta corrente pois poderiam levar a uma quebra na procura externa.
Dívida ainda pesa:
A dívida externa portuguesa, líquida de ativos externos, é uma das mais elevadas entre os países que avalia, sublinha a S&P, adiantando que este indicador ficou acima dos 250% das receitas da conta corrente em 2017, embora o rácio esteja a cair.
A dívida do setor privado também continua a travar uma recuperação económica mais dinâmica, com recursos que poderiam ser utilizados para o consumo ou o investimento a serem usados para melhorar os balanços das famílias e das empresas.
Apesar de a dívida continuar a ser o ‘calcanhar de Aquiles’ da economia, a S&P salientou que a os riscos relacionados com o financiamento externo desceram de forma significativa, provocando uma melhoria nas condições que o Governo enfrenta nos mercados.
Rentabilidade, o desafio da banca:
Apesar do aumento de estabilidade no setor, os bancos portugueses continuam a enfrentar obstáculos nos campos das rentabilidade e da eficiência, referiu a agência de notação. A dependência do financiamento do Banco Central Europeu recuou, mas continua a ser difícil identificar fontes alternativas.
Outro problema é a pressão sobre a capacidade de geração de lucros, num ambiente de taxas de juro ultra-baixas, crescimento ténue nos volumes e stock de ativos domésticos problemáticos que permanece grande.
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