Dois meses após a sua eleição para Presidente do PSD, com apenas 54% dos votos, Rui Rio enfrenta já um conjunto de problemas e de polémicas que dificultam a sua já de si árdua tarefa de procurar apear do poder a geringonça nas próximas eleições legislativas. Ele que havia prometido um banho de ética está a deixar-se atolar no lamaçal que parece ter surgido à sua volta.

Primeiro, foi a situação que envolveu o seu vice-presidente Salvador Malheiro, a quem se diz que Rio deve a sua eleição, já que soube cativar estruturas e dirigentes, orientou a campanha, realizou contactos, percorreu a estrada ao lado de Rio, arranjou carrinhas para que militantes pudessem votar no ex-autarca do Porto. Alvo de inquérito pelo Ministério Público na sequência da adjudicação de relvados sintéticos na Câmara de Ovar, a que preside, Salvador Malheiro está longe de corporizar a imagem de ética que Rui Rio disse querer para o Partido.

Mais grave, no entanto, foi a escolha de Elina Fraga, ex-bastonária da Ordem dos Advogados, que parece ter um armário repleto de esqueletos. Nos conturbados anos em que dirigiu a Ordem dos Advogados, a “herdeira” de Marinho e Pinto viu serem apontados à sua gestão vários pecados, como violações dos estatutos e do Código de Contratação Pública, descontrolo orçamental e contratação de serviços a pessoas que lhe eram próximas.

Acresce que Elina Fraga foi particularmente crítica de Passos Coelho e do seu executivo, ao ponto de chegar a apresentar uma queixa-crime contra todos os membros do Conselho de Ministros do governo PSD/CDS, acusando-os de atentado ao Estado de Direito por causa do novo mapa judiciário.

Falou, na altura, de um governo que havia permitido uma “escandalosa privatização da Justiça” e de a ter colocado “nas mãos de agentes privados”, lançando violentíssimos ataques contra a então ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, a quem culpou de levar a cabo uma “produção esquizofrénica de legislação” e de viver no “mundo virtual do sucesso das reformas propagandeadas”. Não se estranhou, pois, que Paula Teixeira da Cruz tenha considerado uma traição a escolha de Elina Fraga para a vice-presidência social-democrata.

Com estas duas pedras no sapato, Rui Rio viria ainda a ser confrontado com o paupérrimo resultado de Fernando Negrão aquando da eleição do deputado para líder da bancada parlamento social-democrata. Com o pior resultado de sempre, Negrão conseguiu a proeza de ser aprovado apenas por 35 dos 88 deputados, ou seja, 40% dos votos, enquanto 32 deputados lavaram as mãos como Pôncio Pilatos e 21 se manifestaram mesmo contrários ao substituto de Hugo Soares. Numa altura em que a unidade do partido se afigura essencial, a vitória de Pirro de Fernando Negrão representou mais uma contrariedade para Rui Rio.

Não bastando estas polémicas, eis que Rio se viu enredado nos problemas que vieram a público com o homem que havia nomeado Secretário-Geral do PSD: Feliciano Barreiras Duarte.

Na última semana, o Secretário-Geral do PSD foi atirado para as manchetes dos jornais, por ter sido desmentida pela Universidade de Berkeley a sua condição de visiting scholar nessa instituição, a qual era apresentada pelo deputado social-democrata como cartão de visita, apesar de, agora, afirmar que nunca precisou de Berkeley para nada, na vida pessoal, profissional e política, para nenhum grau académico ou qualquer bolsa de estudo, admitindo que nem nunca chegou a entrar nas instalações da Universidade californiana.

A situação, já de si nada abonatória, viria a ser agravada pelo facto de se ter sabido que durante pelo menos nove anos, entre 1999 e 2009, Feliciano Barreiras Duarte declarou, para efeitos de cálculo de ajudas de custos e despesas de deslocação, que era residente no Bombarral, quando, de facto, residia em Lisboa, parecendo, desta forma, ter-se locupletado com verbas a que não tinha legalmente direito.

A demissão era, assim, a única saída possível, tendo a mesma sido apresentada a Rui Rio, que de imediato a aceitou. Barreiras Duarte não se escusou, no entanto, de enviar publicamente um conjunto de farpas aos seus companheiros de partido, acusando-os de estarem na origem deste ataque torpe com Rui Rio como alvo.

Num momento em que a procissão ainda vai no adro, Rui Rio está já consciente de que a sua vida à frente do partido será tudo menos fácil, que o banho de ética por si prometido está longe de se ter concretizado nestes primeiros 60 dias, que, além de cerrar fileiras no combate político a António Costa, terá de aguentar as pressões internas de um partido desunido, sem uma liderança congregadora, incapaz de falar a uma só voz.

Se muitos pensavam utilizar o título do sexto álbum de Fausto para dar uma imagem do desempenho de Rui Rio nos seus primeiros tempos de liderança, o certo é que, mais do que “Por Este Rio Acima”, podemos falar de “Por Este Rio Abaixo”.