Não tenho nada contra os pastéis de nata, que aliás aprecio e devoro sem vergonha sempre que surge a ocasião, e muito menos contra a TAP, a nossa transportadora de bandeira, que, por uma questão de nacionalismo, é sempre a minha primeira escolha. Mas pastéis de nata servidos a bordo da TAP, não. É um crime de lesa património gastronómico.

Eu explico. O pastel de nata é um dos ex-líbris da doçaria portuguesa. Todos os dias milhares de turistas fazem fila à porta de estabelecimentos como a Manteigaria, no Chiado, para saboreá-los, mas a verdade é que estão um pouco por todo o lado, desde as grandes pastelarias aos pequenos cafés de esquina. Há até um concurso para eleger o melhor pastel de nata. Os da Aloma, da Confeitaria Nacional e da Alcoa (passe a publicidade) estão entre os mais premiados.

Em Londres, no hippie chic Camden Market, um triciclo Piaggio pintado de amarelo, branco e preto, ao estilo dos tradicionais elétricos de Lisboa, serve genuínos pasteis de nata portugueses. Vende mais de mil por dia e tem freguesia conquistada. Porque são bons.

Em Paris, Bruxelas, São Paulo, Caracas, Toronto ou Nova Iorque, um pouco por todo o lado onde haja portugueses, lá estão os ‘natas’ a representar Portugal. Verdadeiros embaixadores nacionais, a par com o vinho do Porto, o bacalhau e a sardinha, o cozido à portuguesa, o leite creme ou o arroz doce.

Ora, os pastéis de nata que a TAP nos serve a bordo têm 24 horas de vida, foram congelados e descongelados, são servidos a frio e não são nem frescos, nem estaladiços. Não sãos maus, mas também não são bons. São assim-assim.

A verdade é que para muitos turistas que visitam pela primeira vez Portugal, o pastel servido pela TAP é o primeiro nata das suas vidas. E se o nata não é bom, nem mau, então passará por indiferente. “Vamos ali comer um nata fabuloso? Não obrigado, comi um no avião, quando vinha, e não fiquei grande freguês”. Isto já me aconteceu com amigos vindos de fora.

Quem já comeu um nata a sério, dos bons, morninho, fresco e estaladiço, concordará que a produção industrial que a TAP nos serve a bordo não honra a doçaria nacional, nem a tradição do pastel. Antes pelo contrário.

Acredito que a ideia de servir natas a bordo tivesse a melhor das intenções e que até tenha sido proposta por um chef para honrar a doçaria nacional. Mas a coisa não resulta e tem até um efeito contrário ao desejado.

E porque temos de defender o que é nosso e bom, aqui fica a sugestão: honrem o pastel de nata. Sirvam queijadas de Sintra, travesseiros, jesuítas… mas deixem o pastel de nata em terra. Onde ele é bom.