Reproduzo aqui citações de vários executivos de Silicon Valley, todas proferidas em Davos 2016:
“Não há tema mais importante para nós do que ver a tecnologia como responsável da criação de desigualdade e da concentração de riqueza em apenas algumas pessoas”, Ginni Rometty (CEO, IBM).
“Temos que falar da forma como o excesso [de lucros] é distribuído”, Satya Nadella (CEO, Microsoft).
“Os avanços em Inteligência Artificial estão a ocorrer a uma velocidade que nos preocupa o impacto que terão no cidadão comum, num imenso número de trabalhadores por esse mundo fora”, Marc Benioff (Fundador e CEO da Salesforce).
“Uma pequena parte do dinheiro acumulado pelas 10 ou 50 maiores empresas [tecnológicas] resolveria uma parte importante do problema de rendimento básico”, Vishall Sikka (Infosys, HP).
Porquê a súbita preocupação com a sorte dos “cidadãos comuns” por parte de executivos altamente remunerados? Como valorizar o facto de serem eles a sugerir uma redistribuição de lucros e a instauração de um rendimento básico universal?
A razão é simples: não é possível usufruir de uma vida de abastança rodeados de miséria quando ela é obtida graças a uma maciça transferência de rendimentos do trabalho para o capital ou, dito de forma mais pedestre, dos pobres para os ricos.
Quer seja por via da regulamentação, impedindo o bónus monopolista ao primeiro entrante (Google, Facebook, Amazon…) quer seja por medidas fiscais excecionais impostas aos que produzem o “excesso” a que se referia Nadella, ou diretamente aos processos de automatização e robotização, quer ainda por intercessão direta dos Estados, o Rendimento Básico Universal vem aí. Na Finlândia, 2.000 desempregados estão a receber um pagamento de 560 euros por mês, independentemente de poderem encontrar emprego. Em Stockton, na Califórnia, um jovem mayor de apenas 27 anos, Michael Tubbs, institui um Rendimento Básico para todos aqueles que o peçam, sem burocracias, apenas necessitam estar vivos. Segundo ele, estudos comprovam que a simples garantia de sobrevivência aumenta a capacidade dos destinatários para se reintegrarem na sociedade de forma produtiva e fiscalmente compensadora para o Estado pagador.
Mas, se realmente o problema não é dinheiro, porquê preocupar-nos? Por uma simples razão: durante a transição entre paradigmas, podem ocorrer desgraças. O problema não reside em saber se haverá ou não forma de financiar os sistemas de segurança social. O verdadeiro problema é como responder à ausência do trabalho que, em si mesmo, constitui o principal veículo de socialização do Homem. O trabalho dignifica a nossa condição, é prova de honestidade e de contribuição para a sociedade.
O Império Romano decaiu e a ele sucedeu a Idade Média. Os ingleses chamam-lhe “dark ages”. O declínio civilizacional foi brutal. Se desde o início dos tempos a evolução humana tem sido positiva, ela nem sempre foi linear. Antes de atingir o novo Paraíso sem trabalho, haverá que evitar sucumbir pelo caminho da distopia dos muito ricos a viver num qualquer Elísio orbitando uma Terra povoada de pobres…