Ainda as eleições legislativas estão distantes e há quem entenda que é possível projetar resultados, a mais de um ano de distância. Como se não fosse necessário uma campanha eleitoral e como se a avaliação de comportamentos, posturas e projetos fosse uma heresia. Esta tese ou tendência serve o poder atual de António Costa. Por muito que transpareçam fortes e realizados. Instalados em cima de resultados até agora positivos, o Governo serve-se de uma política de transitoriedade e de efeito imediato, para criar uma convicção de resultados únicos.
É verdade que o Governo, vagueando na onda de um ciclo positivo, capitaliza duplamente com a sua postura tática: repondo, mesmo parcialmente, situações que seriam sempre realizadas por qualquer governo e aproveitando os bons ventos económicos, criam a ficção de durabilidade e de grande capacidade. Mas várias são as vozes que continuadamente alertam para a necessidade de manter um espírito reformista capaz de dar estrutura e duração à mudança. De optar por estratégias de consequências futuras, ao invés de meras ações táticas de resultados imediatas mas que se esfumam à primeira tempestade.
Podem anunciar-se maiorias à distância e perspetivar governos. Traçar cenários ou recriar buracos negros. Nada se substitui à realidade. A vertigem do quotidiano não se substitui ao combate de alternativas e à apreciação de programas e ideias que constroem um futuro para todos.
Não são as sondagens que produzem resultados, tal como não são as grandes tiradas de marketing que transportam vitórias. Uma e outra são, na maioria dos casos, ilustrativas das fraquezas e fragilidades de quem tem pouco para oferecer, a não ser ilusões. O combate dos próximos meses entre partidos que querem apresentar uma solução de governo séria tem de ter a dimensão de demonstrar solidez para governar, capacidade de liderar o país, determinação para resistir ao facilitismo e ao populismo. À atenção de Rui Rio e Assunção Cristas.
As propostas de governo a serem idealizadas neste período terão de assumir compromissos firmes e não idílicos. O período que se avizinha será bem mais complexo do que o presente. O diálogo social será difícil. O jogo de cintura político não será suficiente para levar a nau à descoberta de um mundo novo. E os protagonistas cada vez serão menos um indivíduo isolado e mais a capacidade de vários indivíduos se projetarem em conjunto para se evidenciarem em projetos que arrastem os cidadãos para além da opção clubística de partido.
Os sinais da Europa deixam claro que as opções dos cidadãos exigem crescentemente um “upgrade” de políticas, de propostas de arrojo, de confiança em convicções. Não é a política das redes sociais, mas as políticas de resposta às pequenas/grandes preocupações dos cidadãos. A política tem de ser entendível e descodificável para que o cidadão se envolva e devolva aos seus representantes a responsabilidade de os… representar. Fazer simples. Fazer compreensível. “Make it simple, stupid”!
Em política não há vitórias antecipadas. Principalmente antes de eleições. Estamos a tempo de fazer política e oposição, estamos a tempo de fazer trabalho. Muito a tempo. Desde que comecemos rápido.