A militância político-partidária de Marcelo Rebelo de Sousa é sobejamente conhecida. Ninguém ignora o seu papel na institucionalização do regime e na revisão do modelo. Todos conhecem a sua ligação ao PPD/PSD de que foi presidente, embora com um mandato pouco conseguido.
Um percurso político reforçado pela presença mediática. Um dado imprescindível para explicar a facilidade com que foi eleito Presidente da República e para perceber a construção da sua política de afetos. Uma continuidade da figura do professor que sabia combinar a bonomia quase paternal com a crítica política nem sempre moderada e sustentada ainda que servida por um sorriso cativante.
Como a sua participação político-partidária abrangeu várias décadas, os portugueses foram-se habituando a um bom comunicador a quem desculpavam algumas flutuações opinativas. Como ensinou Ortega y Gasset, há sempre que ter em conta o homem e a sua circunstância. Verdade que também é possível identificar constantes no pensamento de Marcelo. Como a questão do financiamento dos partidos. Na sua ótica, se os partidos constituem pilares do regime deveriam ser financiados, sobretudo, por dinheiros públicos.
Por isso, não admirou que, na qualidade de Presidente da República, tivesse vetado a proposta que a AR lhe remeteu sobre o assunto. A época natalícia não servia de justificação para tudo. Designadamente para o secretismo que envolveu o processo. Uma espécie de política do facto consumado.
Como os deputados foram, segundo as palavras presidenciais, ainda mais longe do que Marcelo tinha solicitado, o PR decidiu promulgar o novo documento legislativo. Porém, a inexistência de dúvidas sobre a legalidade não significa a concordância presidencial com o estipulado na lei. Marcelo continua a defender a posição de sempre. Só que não quis – um eufemismo para dizer que não podia – impor o seu ponto de vista minoritário.
Dito de outra forma: se a larga maioria dos partidos concordava com um modelo de financiamento que os beneficiava, não cabia ao PR tirar-lhes o pão da boca. Afinal, são conhecidas as dificuldades de tesouraria da quase totalidade dos partidos. Por isso, o PR não quis ser acusado de se constituir como oponente à ação de granjearem, por iniciativa própria, o máximo de rendimentos. Para que possam continuar a manter as pesadíssimas máquinas. Ou, segundo os partidos, para que possam servir a democracia.
O cargo de Presidente é suprapartidário, mas há que saber relacionar-se com os partidos. Tanto do Governo ou afins como da oposição. Algo que Marcelo não tem descurado. A democracia precisa de partidos fortes. É à luz desse pressuposto que deverá ser entendida a ação de Marcelo. Obviamente com as inevitáveis adaptações. Por isso, se os portugueses não esquecem a incúria que tantas vítimas queimou em 2017, Marcelo equipa-se e junta-se ao Governo para limpar a floresta, mas avisa Rio que “quem quiser ser governo tem de ganhar o combate da floresta”.
O pisca-pisca presidencial não está avariado. Funciona assim!