No filme dos irmãos Marx “Duck Soup”, de 1933, ouvimos repetidamente “of course, you know, this means war”. Groucho repete-o no “A Night At The Opera”, de 1935. Bugs Bunny volta a dizê-lo no “Porky’s Hare Hunt” de 1938. Entrámos portanto na fase do entretenimento nas relações comerciais entre os EUA e a maior parte do mundo, esperemos que na do cartoon e não na do drama.
Vem isto a propósito da decisão do presidente americano de aumentar as tarifas sobre as importações de vários países, China e União Europeia incluídos, para pretensamente defender empregos e punir práticas comerciais desleais. À China, em particular, acusa de décadas de roubo de propriedade intelectual. Assim, depois de na semana passada ter anunciado quinta-feira tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio chineses, tweetou no dia seguinte o presidente “trade wars are good, and easy to win” e ultima uma lista de produtos-alvo, que representam 60 mil milhões de dólares de importações da China.
Há agora 30 dias para consultas, prazo para se encontrar uma solução. Os chineses, do seu lado, ameaçaram retaliar, para já sobre 3 a 6 mil milhões de importações dos EUA. A grande questão é que perdas vai isto trazer para a economia mundial. No imediato, Liu He e Mnuchin perderam um fim de semana a tentar evitar a guerra comercial e os chineses parecem disponíveis para negociar.
Uma guerra comercial é coisa que não tem vencedores. Um exemplo muito citado é o Smoot-Hawley Act de 1930, quando os EUA fizeram o maior aumento de tarifas desde 1828. O escalar deste conflito elevou as tarifas nos EUA de 13,5% para 20% – um aumento de taxa de metade, atingindo 60% em 3.200 itens. A queda das trocas internacionais foi de um terço.
Nos EUA as coisas não melhoraram: a taxa de desemprego passou de 8% para 16% em 1931 e 25% em 1932-33. Quando George W. Bush aumentou as tarifas sobre o aço em 2002, os EUA perderam 200 mil empregos, 13 mil na siderurgia – o Peterson Institute for International Economics estima que cada emprego no aço “salvo” por Bush custou 400 mil dólares, sem contar com a OMC ter concluído que estas tarifas eram ilegais.
Trump está a reduzir os riscos ao suspender as tarifas sobre a União Europeia e outros, e a concentrar-se na China. Se conseguir ganhos substanciais, criou leverage para impor condições aos outros parceiros; se perder, vamos ter um conflito para alguns anos. Vamos, portanto, seguir com natural expectativa o jogo de ‘chicken’ a que assistimos e esperar que a razão ganhe no final. É que, como escreveu Santayana, “those who cannot remember the past are condemned to repeat it”.