A nação asiática tem feito várias traquinices comerciais como roubar propriedade intelectual de empresas norte-americanas, condicionar a entrada destas no mercado chinês, subsidiar empresas exportadoras, entre outras práticas que não são de todo consideradas aceitáveis segundo os padrões de um relacionamento comercial moderno e sólido.

Durante algum tempo, o Ocidente andou demasiado preocupado com os seus próprios problemas (crise do subprime; crise das dívidas soberanas na Europa) para abordar as questões do comércio com a China. Como se um dos membros da relação andasse demasiado ocupado com os problemas da sua vida profissional para ter energia para abordar os problemas da vida pessoal.

Mas as coisas mudaram ao longo do último ano. Não só as economias dos EUA e da Europa ganharam fulgor, como foi eleito nos EUA um Presidente com um drive político diferente do comum. Para ele, vale a pena arriscar destabilizar algumas relações internacionais em troca da possibilidade de mais jobs ou menos défice comercial, ou simplesmente por alguma mudança, por mais pequena que seja, que posteriormente lhe sirva de chavão político.

Mas na realidade, é possível que este risco lhe corra particularmente bem. A China continua a ter um “problema” de excesso de capital acumulado que tem sido difícil de gerir. Ao mínimo receio em relação às perspetivas da economia chinesa, a montanha de capital que o país acumulou tenta sair de lá, gerando demasiada instabilidade no mercado cambial chinês. Algo que levou as autoridades a implementarem várias medidas de controlo de capitais durante 2016 e 2017. Este problema poderia ser atenuado caso a China abrisse mais a economia ao investimento estrangeiro e fizesse um esforço para o atrair. Esta abertura é mais complexa do que aparenta devido às particularidades da economia chinesa, mas parece ser esse o rumo que as tensões comerciais vão tomar.

Os chineses já começaram por ceder no sector financeiro, onde atualmente não é possível que sociedades estrangeiras detenham mais que 49% do capital, mas tudo indica que os americanos vão tentar extrair mais desta fragilidade dos chineses.

A China deverá no entanto tentar obter o máximo em troca de deixar entrar mais capital estrangeiro na economia (que efecivamente lhe seria benéfico). Têm interesse em minorar a influência geoestratégica dos EUA na região, ou em obter retribuição na abertura a investimento chinês nalguns sectores norte-americanos por exemplo.

Mas como em qualquer relacionamento, é importante que na resolução de tensões haja cedências de uma ou outra parte (preferencialmente resultando num equilíbrio geral de cedências). Na última década, tem sido o Ocidente a dar o braço a torcer, agora é a vez da China.