Entendo que nenhum interesse privado, mesmo que colectivo e previsto na Constituição, se deve sobrepor ao mais importante interesse de um Estado. E é por isso que, na minha opinião, a sabotagem económica, sobretudo quando motivada por mais que evidentes interesses políticos, deve ser severamente punida.

Vem isto a propósito da vaga grevista que está a assolar o país. Mais intensa, naturalmente, depois do primeiro-ministro ter começado a admitir poder ganhar as próximas eleições legislativas, pondo um ponto final na chamada geringonça e dispensando os seus parceiros mais à esquerda. Sem o poder dos votos, resta à extrema-esquerda a agitação na rua. E, para isso, servem alguns sindicatos.

O principal motor da recuperação económica do país é o turismo, que, se somarmos o impacto que tem sobre os cafés e restaurantes, os levantamentos de dinheiro em caixas multibanco, o trabalho temporário, ou o rent-a-car (só para citar alguns casos), já deverá contribuir directa e indirectamente para 20% do PIB.

Portugal está na moda. Lisboa e o Porto estão repetidamente entre os melhores destinos da Europa. O Douro e o Algarve, a excelente qualidade das praias e dos campos de golfe, o património histórico e a gastronomia, são pontos fortes do país.

No fim-de-semana da Páscoa, um dos que maior número de turistas atrai, os trabalhadores dos museus e monumentos e o pessoal português da Ryanair decidiram fazer greve.

Não há turismo se não houver maneira de trazer os turistas até cá. Não vale a pena elaborar sobre a importância que as companhias low cost têm hoje para o turismo, mas talvez valha a pena recordar que a Ryanair foi a primeira transportadora do género a apostar em Portugal.

E se a Ryanair decidisse abandonar Portugal?

Também não vale a pena elaborar sobre o que os museus e monumentos valem na oferta do turismo. Pensem no que seria Paris sem a Torre Eiffel, Londres em o Big Ben ou Lisboa sem a Torre de Belém e os Jerónimos.

A esta lista de crimes contra a economia, podíamos ainda acrescentar as paragens na Autoeuropa, justificadas porque suas excelências, os trabalhadores da fábrica, não querem trabalhar aos sábados. Mesmo que pagos para isso e compensados com folgas. O certo é que o T-Roc, o modelo produzido em Setúbal, já perdeu o estatuto de global car da Volkswagen, em favor de um modelo que será produzido na China e na América latina.

Podem os interesses de um pequeno grupo e as motivações políticas de uma central sindical penalizar o país? Poder podem, mas não devem.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.