Uma das questões políticas mais controversas das últimas semanas respeita a um eventual “bloco central” a emergir das próximas eleições legislativas, face à não existência de uma maioria absoluta e perante o fracasso da atual modalidade parlamentar de apoio da maioria de esquerda ao Governo socialista.
Trata-se de discussão extemporânea face à distância até às eleições nos finais de 2018. A questão emerge, não em função de uma discussão ideológica, mas antes perante os sinais de tensão e incómodo que, subtilmente, os partidos da geringonça demonstram entre si e nos movimentos táticos que PCP e Bloco de Esquerda irão desenvolver, cada um, com objetivos diferentes e opostos.
No campo do centro-direita, enquanto o CDS se esforça por ganhar espaço ao centro impondo uma agenda agressiva, o PSD apresenta-se com espírito dialogante, mas não pode nem deve esperar do PS de Costa qualquer abertura num futuro governo.
António Costa (negando o Bloco Central) joga estrategicamente com todas estas movimentações táticas. Com discurso agressivo, encosta o CDS à direita e às cordas e aparenta dar a mão ao PSD para demonstrar o diálogo que não sente, ao mesmo tempo que tenta condicionar os seus parceiros passivos de governação.
Calculista, António Costa nunca optará por virar ao centro-direita e ao PSD. O seu partido não deixa e precisa de paz social na rua, pois o PCP já demonstrou manter intactas as suas capacidades de mobilização. Basta atentar que entre greves realizadas e anunciadas já estamos perante mais instabilidade laboral que no pior ano da governação de Passos Coelho. Sem maioria absoluta ou se reedita a geringonça ou, em última instância, se paga o preço de ter o BE no governo, esta a receita para o pós-legislativas.
Historicamente, António Costa, por onde passou, sempre privilegiou as ligações à esquerda desde o tempo das lutas associativas na Universidade à Câmara Municipal de Lisboa. Costa também sabe que, num futuro mais longínquo, pode precisar de reclamar votos da esquerda para sonhos menos governativos.
Do lado oposto, os partidos da maioria anterior anteveem a derrocada da paz social atual, a custo de cedências de espaço para o PCP e de expetativas governativas (pouco prováveis) do BE. A vitória não é um cenário impossível desde que o espaço de centro-direita entenda não competir entre si, antes cooperar para reconquistar a credibilidade e seriedade perante o eleitorado.
Imagem que a maioria de esquerda irá lentamente perdendo, face às cedências sistemáticas do Governo, deixando antever a derrapagem de políticas, de estabilidade e de despesa pública neste período pré-eleitoral. Esperamos que essas realidades não sejam mascaradas ao longo deste tempo, de modo a apenas terem impacto para depois das eleições, à semelhança do que aconteceu em 2009 com Sócrates. Sabemos bem o que se seguiu.
De facto, ninguém assume ou reclama o Bloco Central. Portugal não é Alemanha e não temos extremismos que ameacem o poder. Mas que estamos cheios de bruxas, estamos…