Olhando para os três maiores blocos económicos mundiais, verificamos que apenas os EUA, ainda a maior economia mundial, são auto-suficientes em termos energéticos. A União Europeia (UE) importa 58% da energia que consome, enquanto a China apenas importa 19% do total, ainda que seja o maior produtor mundial de energia primária. Olhando para o G20, poucos países estão numa posição pior do que a da União como um todo: Turquia (importa 68% dos produtos energéticos que consome), Japão (85%) e Coreia do Sul (87%).

Dentro da UE destacam-se, pela sua dimensão e dependência energética, a Alemanha (67% de importações) e a Itália (79%). Do elevado volume destas importações europeias, 40% têm origem na Rússia, o que ajuda a explicar a relutância alemã em concordar em interromper os fornecimentos russos.

Já está planeado o racionamento na utilização de gás natural no território germânico, mas ainda de forma moderada. O facto é que, mesmo com a promessa dos EUA de fornecer algum gás liquefeito à UE, não é nada fácil, muito menos no curto prazo, substituir este combustível comprado agora à Rússia.

As primeiras estimativas indicam que a interrupção daquelas importações geraria uma recessão na Alemanha, para além de a inflação poder ultrapassar os 10%, com uma fortíssima subida dos preços dos produtos energéticos. Sendo este país o maior da União e um dos principais parceiros comerciais de quase todos os outros, não custa imaginar como esta quebra do PIB alemão se contagiaria à generalidade dos Estados-membros.

É evidente que esta recessão geraria milhões de desempregados, faltando ainda referir a possibilidade de uma intervenção do Banco Central Europeu, para suster a escalada dos preços, poder agravar ainda mais as perdas económicas e a destruição de emprego.

Ou seja, é compreensível que a visão de cenas horríveis do teatro de guerra suscite o desejo emocional de retaliar, pelo menos com o agravar de sanções. No entanto, nestes momentos de emoções à flor da pele é muito importante conseguir acalmar e ter uma abordagem racional. Em primeiro lugar, continua a não ser claro que as sanções prejudiquem o regime de Putin ao ponto de influenciar o curso da guerra. Por outro lado, convém escolher sanções que não sejam quase piores para o Ocidente do que para o prevaricador.

Uma alternativa, aventada por vários economistas, seria lançar um imposto sobre os produtos importados da Rússia, em particular os energéticos. Desta forma, o Estado governado por Putin seria prejudicado, não por vender menos, mas por receber menos pelo que vendesse. As receitas fiscais adicionais recebidas pelos Estados da UE permitiriam contrariam a forte subida dos preços das matérias primas energéticas, aliviando as famílias europeias que estão, já hoje, a sofrer fortes subidas de preços.

Há um aspecto que merece ser salientado: enquanto uma recessão afecta sobretudo os que ficam desempregados e os trabalhadores por conta própria, uma subida de preços afecta todos os agregados familiares, sobretudo os de menor rendimento.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.