1. O artigo que Aníbal Cavaco Silva fez publicar esta semana no diário “Público” revela que o antigo primeiro-ministro e antigo Presidente da República não perdeu o jeito e dá uma lição sobre como fazer oposição a um Governo de maioria.
Cavaco Silva desafia António Costa a fazer reformas nas áreas fundamentais do Estado, da administração pública, na área fiscal, passando pela área laboral e pelos incentivos às empresas. E, de uma penada só, vem passar um atestado de menoridade ao líder do PSD, Rui Rio, e aos líderes do Chega e da Iniciativa Liberal, que viram reforçados os grupos parlamentares.
A verdade é que ninguém, nem mesmo os putativos candidatos à liderança do PSD, sobretudo Luís Montenegro (sendo que Jorge Moreira da Silva deverá apresentar a sua candidatura com um programa sério esta semana, mas já depois do fecho desta crónica), ou o próprio candidato à liderança do CDS, Nuno Melo, conseguiram a mesma profundidade de pensamento e análise com dados concretos, souberam escolher um timing cirúrgico – a primeira semana de trabalho real do Governo –, ou deixaram um desafio para estes quatro anos como fez Cavaco Silva.
O ex-Presidente insta António Costa a governar para o mandato completo (quatro anos e meio), ou seja, a não largar o Governo para ir para Bruxelas, e a não ter medo das sondagens, tal como Cavaco Silva fez entre 1985 e 1995. Sobretudo no período entre 1987 e 1995, em que governou com maioria e conseguiu retirar Portugal do marasmo em que se encontrava após governos do bloco central.
2. Parafraseando o comentador Paulo Portas, um governante quando começa por anunciar um imposto para as empresas, não começa bem. O ministro da Economia, António Costa Silva, já veio tentar deslindar o mal-entendido sobre a alegada aplicação de uma taxa de imposto sobre os lucros extraordinários das empresas energéticas e que se destinariam a financiar apoios do Estado às empresas e famílias em dificuldades.
Afinal, o chamado “windfall taxes”, algo muito comum nos EUA, não está previsto no programa do Governo e nem sequer foi discutido. Mas não deixará de ser uma possibilidade como último recurso, até porque a ideia veio do Bloco e o PSD está aberto a considerá-la. Ora, Costa Silva e o Governo não desdenham a ideia, e só esperam que Bruxelas a considere como solução para contrariar o efeito da subida dos preços da energia. Em abono da verdade, porém, não é um começo auspicioso.