A luta a favor da sustentabilidade e contra as alterações climáticas reúne um consenso generalizado na sociedade. Mas há que distinguir entre querer, implementar ou até pôr em prática.
Nos últimos anos, as manifestações e as redes sociais têm exercido forte pressão sobre o poder político, que se apressou a legislar e a impor metas de descarbonização ou de redução da temperatura até 2030, ou 2050, consoante os objectivos a atingir, sem explicar as respectivas consequências económicas e sociais.
A transição energética implica uma mudança nas actuais fontes consumo de energia, mas também terá de abarcar o aumento do consumo que se prevê para os próximos anos.
Os critérios ESG – acrónimo, em inglês, para Environmental, Social and Governance – correspondem a fatores de natureza ambiental, social e de governo das sociedades, e foram radicais ao ponto de considerarem a energia nuclear ou até as fósseis como inimigas do ambiente, criando-se inúmeras restrições ao investimento nas energias que poderiam sustentar uma transição energética saudável, com menores custos para as famílias e empresas, ao mesmo tempo que se reduzia a dependência de países terceiros.
Muitos fundos de investimento deixaram de poder investir em empresas que se dedicassem à exploração petrolífera, mesmo que estas implementassem medidas de compensação.
Também a indústria do armamento é um exemplo de quão perdidos andaram os legisladores quando tentaram impor uma agenda energética, que se apoiava nos recursos de países terceiros.
Na sequência do conflito entre a Rússia e Ucrânia, que mostrou a dependência não apenas de matérias-primas agrícolas mas de materiais essenciais para esta transição, iniciou-se o processo de revisão da sustentabilidade do investimento em armamento. Esta indústria passou, assim, a ser “investível”, sempre que os equipamentos militares sejam usados para defesa ou dissuasão do opressor!
Mas os critérios de sustentabilidade aplicam-se também a países. Por exemplo, uma rápida consulta do índice de sustentabilidade dos países mostra-nos que a Venezuela figura entre os piores países no mundo para se investir, pela questão da governação e da ausência de respeito pelos direitos humanos.
Ora, é precisamente com esse país, que gerou mais de cinco milhões de refugiados nos últimos anos, que os aliados se preparam para falar a fim de substituir a Rússia como fornecedor de energia de confiança.
Legislar por conveniência não traz resultados positivos, principalmente num mundo que não tem recursos para absorver uma mudança radical em tão pouco tempo. Este tipo de políticas apenas mina a credibilidade das democracias e revela-se insustentável numa sociedade cada vez mais atenta.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.