Abriu-se um novo ciclo com a aprovação do Orçamento de Estado (OE) para 2022 e está claro que António Costa, o primeiro-ministro, irá fazer exatamente aquilo que Marcelo Rebelo de Sousa lhe disse para não fazer quando lhe deu posse.
Costa já entendeu que tem uma oportunidade única de vir a ser presidente da Comissão Europeia, tem apoios fortes dentro da família socialista e social-democrata europeia e, pasme-se, anda em autêntica campanha eleitoral para o seu futuro posto em Bruxelas como se viu nos últimos dias com a viagem a França para dar apoio a Emmanuel Macron na luta contra Marine Le Pen. Lamentavelmente faz-nos lembrar a cimeira das Lajes, nos Açores, em 2003 onde estiveram presentes George W. Bush, Aznar, Blair e o nosso José Durão Barroso e, só mais tarde nos apercebemos de que Barroso estava a lançar a campanha para a presidência da Comissão Europeia e onde chegou alguns meses depois e permaneceu 10 anos. Desse encontro saiu o acordo com a invasão do Iraque perante pretensas armas que nunca foram encontradas. A guerra na Ucrânia e as eleições em França traz-nos essas reminiscências. E não foi apenas um sinal que Costa quis dar de que estava do lado certo e contra a extrema-direita francesa. O nosso primeiro-ministro (PM) quis mostrar a Macron que está ao seu lado para daqui a alguns meses, pouco mais de um ano, reclamar o seu apoio para outros voos em Bruxelas.
O PR Marcelo foi bastante explícito quando, ao dar posse ao novo Governo, referiu que caso António Costa tivesse ambições europeias iria promover a queda do Governo e convocar eleições legislativas antecipadas. É nesse cenário que a oposição está a dar tudo por tudo e em particular o PSD com o início da disputa entre Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva. Não é ao acaso que Montenegro está a arregimentar tropas do antigo “passismo” misturadas com vários acólitos de Rio, tal como Jorge Moreira da Silva o está a fazer porque mergulham nas mesmas águas. A grande diferença é que Moreira da Silva estava confortavelmente instalado em Paris, como diretor da Cooperação para o Desenvolvimento da OCDE, um cargo muito bem pago e de reputação e que, numa demonstração de grande coragem, levou o ex-ministro de Passos a anunciar publicamente que se demitia do organismo internacional.
Estes sinais do PSD querem dizer que o partido se está a preparar para a luta do poder mais cedo do que o horizonte da legislatura de quatro anos e meio. E se vemos Costa em campanha eleitoral pela Europa, daqui a umas semanas vamos vê-lo a interferir na invasão à Ucrânia e a promover um encontro com Zelensky em Kiev.
Costa só pensa na Europa e esqueceu o país e assim se percebe a nomeação de Fernando Medina para ministro e a inclusão de outros potenciais candidatos à liderança do PS no Governo como Nuno Santos, Vieira da Silva ou Ana Catarina Mendes. Dentro do PS a corrida já começou, assim como no PSD, e em Belém está um homem solitário a ver um Governo de maioria a pôr em causa a estabilidade ditada pelas urnas e que o presidente tanto preza, sendo que parece não ser essa a prioridade do PM.