No ano passado, uma banda italiana ganhou o Festival da Eurovisão. Há mais tempo, Salvador Sobral teve a primeira vitória portuguesa no mesmo certame. Pergunto ao leitor e deixo ao cuidado da sua reflexão: os presidentes de Itália e Portugal receberam, em virtude disso, mensagens do líder da Comissão Europeia e de outros congéneres que integram a Aliança Atlântica? Sabem a resposta: não.

Por isso, é profundamente ridículo que Ursula von der Leyen e outros tenham ido a correr dar os parabéns a Volodymyr Zelensky pela vitória da Ucrânia no dito evento. Chegou-se ao nível da fantochada e a um ponto em que as mais altas figuras de vários Estados escolhem ir aos pulos a Kiev para “selfies”, desligando-se completamente do que deve ser a responsabilidade e imagem institucional de um líder.

Tolstoi, que muitos comentadores que aparecem nas televisões a perorar sobre a Rússia nunca leram, dizia que “os melhores guerreiros são a paciência e o tempo”. Temos de ter doses cavalares da primeira para tudo e dar tempo para que este conflito se resolva, sendo que continua incerto o seu desfecho.

O único tema nacional que conseguiu furar a monolítica temática da guerra da agenda mediática, para lá do incontrolável e galopante número de novos casos de Covid – que serão mais de 60 mil até ao fim de Maio, e a varíola dos macacos –, foi a questão dos metadados que não foi correctamente explicada e, por tal, a maioria da comunidade não percebe rigorosamente nada.

Porque, de resto, continua sem existir Governo ou oposição. É como se vivêssemos num vácuo sem sentido, imunes aos temas que nos deviam tocar directamente. Não sabemos o que fazem os ministros, nem o que questiona ou interpela a oposição.

E falando no maior partido da oposição, que vai a votos daqui a uma semana, na batalha que opõe Luís Montenegro a Jorge Moreira da Silva, nem debates televisivos vão ocorrer (porque o ex-líder parlamentar não quer e o oponente está com Covid e as televisões também não estão muito interessadas nisso) quando, antigamente, uma guerra entre os sociais-democratas despertava as atenções e dava audiências. A degradação da marca PSD e o desinteresse generalizado por ela é um dos maiores legados de Rui Rio que, aliás, o ridículo matou.

PS: depois de muitos anos de batalha contra a doença e de muita resistência ao cepticismo de muitos médicos, partiu um homem que amava a vida, era curioso pela novidade e pelas pessoas. O meu amigo Fernando Sobral foi um grande jornalista e escritor, e sobretudo um extraordinário ser humano. Fica também o Jornal Económico mais pobre, pois as suas duas páginas da “Sociedade Recreativa”, que aqui assinava semanalmente, eram de leitura obrigatória. Muito obrigado por tudo o que aprendi com ele e pela generosidade dos seus conselhos, que seguirei.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.